Um homem, uma mulher (1966)

Título original: Un homme et une femme

Título em inglês: A man and a  woman

País: França

Duração: 1 h e 42 min

Gêneros: Drama, romance

Diretor: Claude Lelouch

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0061138/


A vida é um mar de emoções! Às vezes, ela proporciona comédias; às vezes, tragédias – que podem estar relacionadas aos mais diferentes acontecimentos. Aqueles associados à morte carregam o condão de propiciar grande dor nas pessoas que ficam, a qual é proporcional à importância atribuída aos que se foram das vidas delas. A verdade é que não é raro encontrarmos pessoas atormentadas, por não estarem preparadas para lidar com a imprevisibilidade da vida. É nesse sentido que o filme em destaque se desenvolve: uma história que entrelaça um homem e uma mulher viúvos, que, na teoria, tinha tudo para caminhar com facilidade, porém os sentimentos são mais imponderáveis do que imaginamos.

A sinopse, retirada da internet e com adaptações, é a seguinte: “O piloto de corridas Jean-Louis Duroc e a roteirista de cinema Anne Gauthier, duas pessoas recém-enviuvadas, encontram-se por acaso quando visitam seus respectivos filhos num colégio interno, e isso se repete todos os finais de semana. Um dia, Anne perde o trem, Jean-Louis lhe oferece uma carona de volta a Paris e eles acabam se apaixonando, mas principalmente a jovem senhora percebe que as lembranças do seu marido falecido ainda são muito fortes.”

O laureado roteiro foca principalmente nos detalhes – e na dificuldade – da aproximação entre os dois protagonistas: cada sorriso, cada pequeno gesto, cada interação entre eles devem ser levados em consideração, pois cada um desses atos é uma gota d’água que é utilizada no florescimento de algo chamado amor, principalmente pela presença constante de memórias afetivas românticas e alegres, que, ao passo que proporcionam boas recordações e afagam o coração da protagonista, representam óbices para que ela se permita ser feliz ao lado de outra pessoa. Nota-se que a relação entre ela e seu falecido marido era algo que beirava a perfeição, enquanto a relação de Jean-Louis com sua falecida esposa não é mostrada com a riqueza de detalhes necessária, deixando em dúvida o nível de felicidade do casal. Nota-se que Jean-Louis busca relacionamentos abundantes e fúteis, enquanto Anne prefere o isolamento. Por esse comentário, justifico a convergência da narrativa – e das atenções – para a jovem e bela protagonista, pois ela é a fonte de dúvidas e concede o mistério suficiente para tornar o desfecho imprevisível. Por sinal, o diretor Claude Lelouch gravou dois finais para o filme: o protagonistas juntos e felizes ou separados. Será que ele teve a coragem de separar o casal? Lembrem-se de que desfechos podem ser infelizes para proporcionar reflexões. Como essa é uma crítica recomendativa, obviamente não vou revelar qual foi o final escolhido.

O filme é um primor em relação aos aspectos técnicos. Além do roteiro, que atinge um alto nível de excelência, há um esmero estilístico em vários elementos constituintes de uma obra cinematográfica e na harmonização de tais elementos para formarem um todo excepcional. Destaco a belíssima fotografia, que proporciona uma linda experiência visual; a elegante trilha sonora, composta principalmente por Francis Lai, e que, diga-se de passagem, presta textualmente uma homenagem a diversos intérpretes e compositores brasileiros, além de contar com uma música de Vinicius de Moraes; a paleta de cores, que teve sua utilização definida de maneira acidental, pela falta de recursos para a aquisição de quantidades suficientes de rolos de filme coloridos, mas que, através da perspicácia do diretor, resultou em um resultado genial – as paletas preto e branca e sépia foram utilizadas para mostrar fatos presentes e a paleta colorida foi utilizada para mostrar flashbacks e/ou memórias; a montagem, que é frenética, mesmo em uma narrativa que por vezes tem na lentidão uma de suas principais características, e também ideológica – herança do grande diretor soviético Serguei Einsentein -; e a maneira como algumas cenas foram filmadas – muitas vezes com uma câmera móvel, para conceder movimento às passagens do filme.

Um homem, uma mulher” é um filme sensível, que literalmente contempla o possível nascimento de um grande amor. Um amor condicionado à libertação de luzes do passado. Um amor entre um homem e uma mulher, mas sob a observação constante de um espírito, que, por sua vez, já propiciou toneladas desse sublime sentimento, o qual, segundo Camões, “é fogo que arde sem se ver, ferida que dói e não se sente”. Mais uma obra-prima da história do cinema, que possui uma temática simples, mas que foi desenvolvida com a maneira francesa de fazer cinema, que é peculiar por natureza.

O trailer, que contém a música tema do filme, a qual ficou famosíssima em todo o mudo, segue abaixo.

Adriano Zumba


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