Asmaa (2011)

País(es): Egito

Duração: 1 h e 36 min

Gênero(s): Drama

Elenco principal: Hind Sabri, Maged El-Kidwani, Hany Adel

Diretor(a): Amr Salama

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt1826603/


Sinopse: Uma mulher aidética decide não se render à doença. Ela se esforça ao máximo para tentar a recuperação e/ou ajudar outras pessoas com a mesma doença, dando-lhes raios de esperança.


APENAS UM RECORTE ABOMINÁVEL DE UMA TEOCRACIA PRECONCEITUOSA.


Infelizmente, o mundo é segregador, é preconceituoso, e pode-se dizer que a raiz desse comportamento é diversa, mas há um grande e conhecido motivo por trás dele, a religião, que não raro elege a mulher como alvo. Somando-se a isso, há algumas doenças que, mesmo com tanta informação que é propagada ao longo do tempo e a facilidade com que ela se dissemina já a algumas décadas por conta da internet e da mídia, ainda impõem a seus portadores uma carga de rejeição enorme por conta do medo, como, por exemplo, a AIDS. Dito isso, temos uma narrativa que utiliza uma protagonista mulher, vivendo num país muçulmano e sendo portadora do vírus da AIDS. Pior impossível (só faltou ser adúltera)! Presságio de muita desumanidade durante a exibição! Lembrando que o filme é baseado parcialmente em fatos reais, utilizando-se de uma mulher egípcia anônima como inspiração para a construção de sua protagonista e de seus fatos, potencializando a angústia proporcionada pela observação de uma suposta realidade.

Inicialmente, Asmaa é uma mulher de 45 anos, viúva, que mora com o pai e com a filha Habiba e participa de um grupo de ajuda para portadores do HIV. Conhecida a conjuntura inicial, as primeiras questões que surgem invariavelmente são: como Asmaa contraiu o vírus e o que aconteceu com seu marido. Assim, o filme vai sendo desenvolvido trabalhando essas duas questões, que vão sendo reveladas muito aos poucos, mas com riqueza de detalhes, mantendo a expectativa em alta e, porque não, a tensão.

O filme vai e volta na linha do tempo, o que em alguns momentos até gera alguma dúvida. O interessante desses passeios temporais é a mudança da paleta de cores a depender do momento da vida da protagonista que é mostrado. Por exemplo, o passado de Asmaa é bastante colorido, ao passo que o presente é mais azulado, mais obscuro, mais sem vida. A história de Asmaa e seu marido Musaad é revelada desde o início, e, concomitantemente, há outras sub-histórias que vão sendo desenvolvidas para se encontrarem no final atando seus nós: um programa sensacionalista de TV com um âncora bem controverso e com métodos questionáveis, e nuances da adolescência de Habiba, principalmente seu relacionamento com a mãe e sua “luta” por liberdade naquela sociedade restritiva. O fio condutor da narrativa é a negativa tardia (na mesa de cirurgia) da realização de uma colecistectomia em Asmaa para retirar sua vesícula (o que a levaria à sua morte caso não fosse retirada). Esse fato desencadeia a possibilidade de Asmaa participar do programa de TV no intuito de conseguir sua cirurgia, de exigir o direito de ser tratada, com a contrapartida de “mostrar a cara”, o que colocaria na berlinda a questão de sua reputação e honra naquela sociedade preconceituosa. A questão de como ela contraiu o vírus acaba se tornando fundamental e o mistério em torno dessa informação é muito bem trabalhado, aguçando sobremaneira a curiosidade do espectador.

Temos um encadeamento de fatos nocivos à figura de Asmaa, demonstrando como é difícil para uma mulher egípcia estar inserida numa sociedade tão “teologicamente misógina” e tão desinformada. Além da negativa da cirurgia, temos a situação de Asmaa ao vender tapetes num mercado público (que parece servir apenas como exemplo da repressão ao sexo feminino, mas tem importância suprema na narrativa), a reação de seu pai com o comportamento dela ao flertar com Musaad, a fala de seu cunhado em relação ao sexo do filho que ela vai gerar, a reação de seus colegas de trabalho ao ficarem sabendo de sua doença e serem questionados em relação à sua permanência no emprego, etc. Asmaa acaba sendo encurralada por todos os lados, tendo que lidar com o destino de seu marido, com a rebeldia de sua filha, com a doença, e ainda precisar adquirir coragem para aparecer em rede  nacional para denunciar o tolhimento de seus direitos e ajudar na conscientização da população em relação à humanidade para com pessoas com a mesma condição que ela. Indubitavelmente, é uma narrativa inspiradora, pois requer força de sua protagonista.

Asmaa” fica cada vez melhor à medida que avança e, ao final, o espectador se sente dominado e verdadeiramente levado pela força notável da protagonista e pela arrebatadora surpresa do plot twist introduzido pela revelação da causa do contágio de Asmaa, apesar de ela passar todo o filme sendo muito firme em não revelar essa informação. Trata-se de um ato ousado, nobre e sobretudo de amor, que eu diria que seria inverossímil se o filme não fosse baseado em traços de realidade. Finalizando, nota-se que, apesar de algumas conquistas, a liberdade feminina completa em países muçulmanos ainda está bastante longe e a AIDS ainda tem muito chão pela frente para se ver livre do preconceito. Esses temas infelizmente ainda são tabus que a sociedade moderna ainda não conseguiu extirpar.

O trailer com legendas em inglês segue abaixo.

Adriano Zumba


TRAILER

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