Asia (2020)

País: Israel

Duração: 1 h e 25 min

Gênero: Drama

Elenco principal: Shira Hass, Alena Yiv, Tamir Mula

Diretora: Ruthy Pribar

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt10032266/


Citação: “A única coisa boa que recebi de um homem foi você.”


Opinião: “Um mais do mesmo interessante”.


Sinopse: “Asia não é uma mãe comum. Ela é de espírito livre, mente aberta e não julga; mas tudo isso é posto à prova quando sua filha adolescente, Vika, que carrega uma doença degenerativa, anuncia que está pronta para perder a virgindade.”


“Asia” foi a escolha de Israel para a disputa do Oscar de Melhor Filme Internacional em 2021. Trata-se de mais um daqueles filmes sobre doenças terminais e seus impactos na vida de uma ou mais pessoas. Uma temática exaustivamente abordada pela sétima arte, que não deixa de ser pertinente pelo tom humanista que exala em cada cena, mas, no meu entender, é algo que assassina a originalidade pela recorrência e já se tornou terrivelmente enfadonho, mesmo que sua implementação seja satisfatória, como no caso do filme em tela. Em “Asia“, é inegável a emoção proporcionada – até pela essência da temática -, mas coloco o filme num patamar comum, pois é apena mais do mesmo.

O filme é bastante simples, tanto em roteiro – a despeito de duas ou três cenas de impacto – quanto em outros aspectos, conta com poucos personagens de real importância dentro da história e preza principalmente em desenvolver a relação entre mãe e filha, considerando diversas nuances, tendo como pano de fundo uma doença degenerativa da garota Vika, que, pelo que é apresentado, parece ser ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), pois o filme em momento algum informa ao público qual enfermidade está sendo exibida.

O maior foco da obra recai sobre as dificuldades de toda a conjuntura dramatizada. Primeiramente, na relação mãe e filha propriamente dita, através de obstáculos cotidianos e comuns relacionados à idade de Vika, pela rebeldia intrínseca da idade. A dificuldade de entendimento e conexão com Asia é evidente, e é potencializada pela necessidade de subsistência, o que leva a matriarca a permanecer muito ausente de casa e não acompanhar como deveria a vida de sua filha, e suas próprias necessidades como mulher e ser humano, que serão detalhadas no próximo parágrafo. Depois, a conjuntura imposta pela doença segue o modus operandi padrão de qualquer outro filme que utilize a temática, inclusive com uma mudança de comportamento das personagens que passam a exibir maior aproximação, cumplicidade e uma relação mais próxima e afetuosa por terem que lidar com a finitude da vida. Essa ternura é nada mais do que esperada. Pelo menos a diretora poupou seu público de cenas exageradamente melodramáticas e lacrimosas, como, por exemplo, uma hipotética cena da revelação do diagnóstico ou do tempo de vida restante.

Há um contexto sexual interessante exibido na trama, algo que caminha num sentido instintivo e natural do ser humano. A matriarca, Asia, é enfermeira, separada, e mantém um relacionamento com um médico casado do hospital em que trabalha, aparentemente para saciar suas necessidades sexuais, pois não demonstra sentimentos por seu parceiro. Vika, por sua vez, é adolescente, virgem, e se encontra ávida por ter a sua primeira experiência sexual, principalmente após saber que tem pouco tempo pela frente, mas com todos os medos e dúvidas inerentes a isso. Há uma conexão incomum entre mãe e filha nesse contexto sexual, o que, diga-se de passagem, é algo pouco retratado no cinema. A utilização dessa vertente narrativa leva a uma das cenas de impacto citada mais acima, que considero bastante controversa, quando Asia pede de forma indireta que Gabi, o enfermeiro que toma conta de Vika, que se encarregue da atribuição de realizar o desejo de sua filha, já que Gabi e Vika se relacionam bem. Tudo o que reveste essa situação considero de difícil digestão e o julgamente fica a cargo do espectador. Particularmente, não gostei, mas entendi a proposta, pois transmite dignidade e humanismo a um cenário deveras sombrio.

Outra cena que merece ser destacada e comentada é o desfecho do filme que é arrebatador e desperta uma gama de sentimentos, apesar de exibir em seu bojo e sua essência, mais uma vez, nada de novo no front, pois, por exemplo, algo similar acontece no desfecho da obra-prima “Amor” (2012).  É um misto de beleza pela exteriorização de grande ternura entre mãe e filha, tristeza pela concretização do inevitável, e angústia pela implementação das ações da cena, principalmente por o espectador inevitavelmente se colocar no lugar de Asia – tudo é construído com esse intuito, numa competente manipulação das emoções.

As atuações de ambas as progonistas na maioria do tempo de exibição do filme, são divinas e merecem muitos aplausos. A química entre as Asia e Vika realmente aconra o filme de maneira pujante e as escolha das intérpretes foi bastante feliz, pois elas se parecem bastante fisicamente, o que me levou até a pesquisar sobre um eventual parentesco entre as duas. Asia apresenta uma resiliência quase silenciosa e Vika, uma exibição bastante tenra, forte e verossímil de uma jovem que convive com o padecimento de seu corpo.

Apesar da falta de originalidade, e o uso de diversos clichês, “Asia” tem seus méritos, principalmente no sentido de atingir o coração de seu público e conseguir transmitir um viés deveras realista através de sua dramatização, pois é um filme silenciosamente devastador. Provavelmente conquistará o chamado espectador médio pela delicadeza, intimidade e cuidado com que retrata acontecimentos tão difíceis e a relação complexa e inquebrável entre mãe e filha, entretanto, pela disponibilidade de tantos outros recursos narrativos e técnicos providos pelo cinema que foram negligenciados, posso afirmar se tratar de um filme pobre que, repito, situa-se num lugar comum, mas absolutamente confortável, pois, de certa forma, acaba agradando em alguma medida.

O trailer com legendas em inglês segue abaixo.

Adriano Zumba


TRAILER

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