Preparativos para ficarmos juntos por tempo indefinido (2020)

3,5 estrelas

Título original: Felkészülés meghatározatlan ideig tartó együttlétre

Título em inglês: Preparations to be together for an unknown period of time

País: Hungria

Duração: 1 h e 35 min

Gênero: Drama, romance

Elenco principal: Natasa Stork, Viktor Bodó, Benett Vilmányi

Diretora: Lili Horvát

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt12564514/


Citações:

  • Minha intuição me diz que você gostaria que eu lhe diagnosticasse com algum tipo de transtorno de personalidade. Então, você teria um relatório médico dizendo que seu amor não lhe traiu.
  • “Eu deveria ter amado um pássaro do trovão;  Pelo menos, quando a primavera chegar, eles rugiriam de novo. Eu fechei meus olhos e todo o mundo caiu morto. Eu acho que imaginei você em minha cabeça.”


Opinião: “Um estudo de caso sobre a obsessão, metaforicamente até o nível cerebral.”


Sinopse: “Uma brilhante neurocirurgiã abandona sua carreira na América pra retornar à Budapeste na intenção de se reunir com o suposto amor de sua vida: um homem que diz que eles nunca sequer se conheceram.”


Realizar filmes que adentram no psicológico de um determinado personagem é sempre algo ousado e, dependendo da abordagem utilizada, fadado ao insucesso dependendo da profundidade de tal abordagem, pois quanto mais profundo, mais complexo, o que provavelmente afastará grande parte do público. Não são todos que têm a sagacidade e a capacidade de Bergman, por exemplo, para produzir filmes desta natureza. “Preparations” (nome que irei utilizar para referenciar o título-frase do filme até o final desse texto) constrói uma aura duvidosa, mas atrativa, conseguindo manter a atenção de seu público ao longo de toda a sua exibição, apesar de demonstrar uma certa perda de intensidade em sua segunda metade e contar com um terceiro ato um tanto quanto sem graça, mas que promove uma suposta reconexão com o passado. De qualquer forma, vale o ingresso pelo desafio imaginativo e pelo mistério proporcionados. Seguem abaixo as minhas impressões.

Um médica húngara, Márta, que mora em New Jersey, e um médico também húngaro, János, ambos de meia-idade, fortuitamente se encontram em uma conferência internacional de neurocirurgia nos Estados Unidos, interagem de forma amorosa e marcam para se encontrarem na Ponte da Liberdade, que separa o lado Buda e o lado Pest da capital da Hungria, Budapeste, dentro de 1 mês, mas não trocam telefones após o primeiro encontro. Algo que, diga-se de passagem, é meio surreal! Márta cruza o mundo para encontrar com seu escolhido no dia marcado, mas ele não aparece. Ao encontrá-lo em um hospital da cidade, ele diz que não a conhece. O impasse, então, está estabelecido, e perdurará até o final, no sentido de levar a neurocirurgiã, que, simbolicamente, pelo exercício de sua profissão, segura sempre em suas mãos os sentimentos das pessoas, por manipular cirurgicamente o cérebro de seus pacientes, a procurar um psiquiatra para identificar o que é real e o que é imaginário nesse episódio. Ela fantasiou tudo isso por desejar demais ou há algum impedimento ou segredo por parte de János?  Muito interessante e desafiadora a premissa.

Após plantada a semente narrativa, o que se segue é um severo conflito interno da protagonista, uma busca desenfreada por respostas, muito mistério, muitas analogias com a neurociência, a formação de um triângulo amoroso – desnecessário, diga-se de passagem -, e a apresentação de um János enigmático e deveras indecifrável, para que uma conjuntura controversa tome corpo. Trata-se de um filme com um foco tão direcionado para a dupla de protagonistas que a utilização de personagens secundários para roubar as atenções e a adição de algumas subtramas perdem totalmente o sentido. Saliento isso fortemente pela presença dos personagens Alex e Helen, que são portadores de arcos dramáticos menores, descabidos e desinteressantes. A história foca no lado obsessivo de Márta e no lado incompreensível de János, além das nuances psicológicas que envolvem todo o contexto construído para os dois. Com isso, no meu entender, não haveria espaço para desvios, a não ser que guardassem relação direta com a linha de pensamento principal da história.

Closes no azul dos olhos de Márta enquanto discute seu caso com o psiquiatra possibilitam ao espectador divagar à vontade sobre o que é real ou imaginário. Por sinal, essa interação entre os dois é muito reveladora, mas não é trivial, e requer interpretação por parte do público. A dúvida está profundamente presente no âmago da médica balzaquiana e a idealização do parceiro perfeito para sua vida, apresentada sob forma de obsessão, são extremamente bem representadas pela atuação da atriz Natasa Stork em seu primeiro papel principal no cinema húngaro.

Deve-se atinar para o título do filme e para os versos retirados de um poema publicado em 1953 pela norte-americana Sylvia Plath 10 anos antes de seu suicídio, que são exibidos no início do filme, pois são muito simbólicos, dados os acontecimentos dramatizados e denotam imprecisão em suas essências. O poema se chama “Canção de amor da jovem louca” e já coloca em xeque a sanidade da protagonista.

Após a experiência proporcionada por “Preparations”, nota-se que estivemos diante um estudo silencioso dos riscos irracionais que o amor pode produzir, que são mostrados através de uma história aparentemente banal, mas que consegue explorar diferentes níveis da alma humana. Em certo momento da exibição, ao dar uma entrevista sobre um livro que estava lançando, János diz: “Não percebo meus pensamentos como eletroquímica, mas eles são”, isto é, o cérebro das pessoas gera sinais elétricos que fluem rapidamente através dos neurônios, mas o que acontece se esses sinais não se encaixarem perfeitamente na realidade? A resposta está no filme. Ou não! Descubra!

O trailer com legendas em inglês segue abaixo.

Adriano Zumba


TRAILER

2 comentários Adicione o seu

  1. Rose Agra disse:

    Achei que não existia romance algum. Era tudo loucura da cabeça dela. A primeira frase que vc postou (a do terapeuta) explica bem isso. Será? Kkk!

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    1. É uma possibilidade plausível viu, Rose. Talvez, até provável. Esses filmes subjetivos são bons pq colocam nossa véia imaginativa e interpretativa para trabalhar. Kkk. Nem imaginei que vc veria esse filme. Nem recomendei pro Massao.

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