Pebbles (2021)

3 estrelas

Título original: Koozhangal

País: Índia

Duração: 1 h e 15 min

Gênero: Drama

Elenco principal: Chellapandi, Karuththadaiyaan

Diretor: P. S. Vinothraj

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt13710226/


Citação: “Você gosta de mim ou da sua mãe?”


Opinião: “Um primor estético e visual – só isso!”


Sinopse: Duas aldeias áridas separadas por uma distância de 13 quilômetros ao sul de Tamil Nadu desenrolam um drama testemunhado pelo sol. Um espancador de mulheres alcoólatra embarca em uma jornada, arrastando seu filho para trazer de volta sua esposa que ele expulsou. A terra e as emoções humanas eram descaradamente palpáveis no calor abrasador. Esta jornada está repleta de suor e manchas do povo comum, criaturas rastejantes e terreno desértico.


A cinematografia indiana ao longo do tempo tem exibido para o mundo a condição de inferioridade e submissão que suas mulheres locais enfrentam diuturnamente. Em “Toilet“(2017), as mulheres de um vilarejo tinham que seguir em comboio de madrugada para o meio do mato para fazer suas necessidades fisiológicas, pois o banheiro de suas residências era restrito aos homens. Em “Padman“(2018), as mulheres tinham que passar todo o período em que estão menstruadas em um local fora da casa – como uma casinha do cachorro -, pois se tornam impuras. A verdade é que exemplos cinematográficos dessas nuances da sociedade indiana abundam, pois simplesmente mostram a realidade, principalmente quando o recorte levado em consideração se aproxima das áreas rurais do país, onde os preceitos religiosos e as tradições ditam o tom soberanos, ao contrário das grandes metrópoles, cujos habitantes já possuem hábitos bem mais “ocidentais”. Em “Thapaad“(2020) já se vê um exemplo dessa mudança de pensamento e comportamento. Dito isso, “Pebbles“, o filme em tela, que foi “rodado” em áreas rurais, áridas e miseráveis do sul de Tamil Nadu, mostra mais um exemplo de masculinidade exacerbada, e por que não, tóxica, que guia os rumos das sociedades de tais áreas. Trata-se apenas de mais do mesmo, principalmente para quem acompanha o cinema indiano rotineiramente, mas, de qualquer forma, é mais uma súplica que percorrerá os quatro cantos do mundo através do cinema, em busca de igualdade entre os gêneros. Narrativamente falando, é um filme com muito poucos atrativos – e não só pela recorrência de sua temática -, mas em aspectos técnicos é primoroso.

Pebbles” bebe da fonte do maior cineasta indiano da história: Satyajit Ray – e a crueza de seu realismo cinematográfico. Trata-se de um filme a la Ray, mas com a utilização massiva de recursos estilísticos modernos, principalmente em relação aos enquadramentos e técnicas de filmagem que são lançadas mão. Em certos momentos, parece até um tipo de cinema experimental, que brinca com as imagens para mostrar o domínio da técnica, mas se trata de arte voltada para a maximização dos resultados visuais da obra. 

A despeito dessa excelência visual, com inúmeros closes nos personagens para mostrar suas feições e emoções, cenas aéreas feitas com drones para potencializar a magnitude da percepção do espectador, e outras tantas cenas gravadas com a câmera na mão para conceder movimento e diferentes visões, infelizmente, é visível que o filme foca bastante no estilístico e esquece do narrativo. Sua narrativa, como já salientado, é banal para os padrões indianos e conta com um desenrolar muito rasteiro e com nenhuma trama acessória pertinente, ou seja, possui um roteiro muito pobre de ideias, mas com algumas cenas do chamado “cinema verdade” que são pertinentes dentro do contexto proposto, principalmente para exibir a miséria da população rural da Índia. A cena em que pessoas capturam, matam e comem ratos é emblemática nesse sentido, mas, ao mesmo tempo, há uma certa quebra do viés quando uma menina lança sementes ao ar que descem em um bailado maravilhoso, proporcionando muita beleza para os olhos do espectador.  O que se nota é que filme algum se sustenta apenas com técnica refinada – pelo menos para a percepção do público. Precisa-se de uma história atraente e contada de maneira inteligente através da manipulação da linguagem cinematográfica – e isso “Pebbles” não possui. A cena da caminhada final de volta à vila é de machucar a paciência, mesmo estando dentro da conjuntura que se deseja apresentar.

Talvez, o principal elemento que é utilizado pelo diretor para tentar retirar sua narrativa do lugar comum seja a presença de um observador – e por que não, paciente das ações mostradas pelo filme -: o garoto Velu, que é filho do protagonista Ganapathy, o pai. Velu é testemunha de todo o autoritarismo, alcoolismo e ódio de seu pai e de toda a insatisfação dos entes de sua mãe, entretanto, ao fim, escolhe a família através de uma bela passagem onde escreve o nome de seu pai numa rocha. Cabe ao espectador julgar as motivações do garoto para esse ato, pois há algumas interpretações possíveis para elas. E as consequências para a vida dele? Será que Velu seguirá os “ensinamentos” do seu pai quando for adulto? Como a filme é subjetivo, esse destino fica a cargo do público.

Entre cenas incômodas, banais e singelas, “Pebbles” possui inegavelmente uma função social embutida, no entanto, a maneira como contou a sua história foi insatisfatória. Pecou no desenvolvimento de seu roteiro, mas ganhou pontos através de sua técnica. É o típico filme que é um martírio para o espectador médio, mas é um deleite para amantes e estudiosos da sétima arte. Como acho que há de haver uma certa democracia em uma obra cinematográfica para que os impactos de sua exibição alcancem todos os públicos, minha avaliação foi apenas razoável, e julgo que não deve seguir adiante pelo Oscar de Melhor Filme Internacional em 2022, pois foi o indicado pela Índia para a disputa. Acho que haveria representantes melhores!

O trailer com legendas em inglês segue abaixo.

Adriano Zumba


TRAILER

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