Icarus (2022)

Título original: Icare

Países: Luxemburgo, França, Bélgica

Duração: 1 h e 16min

Gêneros: Animação, aventura, família

Diretor: Carlo Vogele

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt13558022/


Citações:

  • “Cada obra é um mistério.”
  • “Eu pedi um amante, não uma criança.”
  • “Você está falando na minha mente?”
  • “Quando eu carregava você, nossos corações batiam em harmonia.”
  • “Eu não sou um pássaro, mas um menino.”
  • “Ástérion é apenas o símbolo de sua loucura.”
  • “Quando eu derramar o sangue desse monstro, você me louvará por tê-lo purificado de sua desonra.”
  • “Você pensa que está soprando chamas, mas está atiçando as brasas.”
  • “Olhe para a carnificina que você deixa para trás.”

Sinopse: Na ilha de Creta, cada esquina é um parque de diversões para Ícaro, filho do grande inventor Dédalo. Durante uma exploração perto do palácio de Knossos, o menino faz uma estranha descoberta: uma criança com cabeça de touro está trancada ali por ordem do rei Minos. Sem seu pai saber, Ícaro fará amizade com o jovem minotauro chamado Ásterion. Mas o destino muda quando este é levado para um labirinto. Conseguirá Ícaro salvar seu amigo e mudar o rumo de uma história escrita pelos deuses?


UMA LENDA EM FORMA DE ANIMAÇÃO PARA TODOS OS PÚBLICOS.


Imutável por milênios, a mitologia é, no entanto, sujeita a interpretações. Sua leitura pode mudar de acordo com os períodos e o que se deseja projetar em determinado contexto. Dito isso, o diretor e roteirista do filme, Carlo Vogele (ex-Disney/Pixar), quando instado sobre o assunto respondeu: “De Ícaro, conhecemos apenas a queda. Não conhecíamos de sua infância. Havia tudo para construir.” Depreende-se que há muitas lacunas no mito de Ícaro, que é tomado como base para esta bela obra da cinematografia luxemburguesa, e que muita liberdade criativa será lançada mão para a adaptação da famosa história para a grande tela. Há livres acréscimos de história ao mito, pois muitos conhecem Ícaro apenas como uma figura mitológica da imprudência, que morreu por não ter escutado as advertências de seu pai, Dédale. Agora Ícaro tem história, e, sobretudo, tem coração, e a narrativa que lhe descreve é menos moralista, mais complexa e, em última instância, repleta de esperança.

O protagonista, Ícaro, é retratado como um personagem livre, intrépido e alegre, profundamente atraído pelos pássaros, que observa e imita desde a cena inicial (detalhe importante que dá margem ao destino desastroso do personagem). O foco da narrativa está na construção de sua personalidade, à medida que ele cresce, seu pai o educa e ele forma suas próprias ideias sobre o mundo ao seu redor… além de suas próprias escolhas. O outro protagonista, o famoso Minotauro, que tem nome: Ásterion, filho ilegítimo da rainha Pasifae e um enorme touro enviado por Poseidon, uma criatura originalmente descrita como sanguinária e monstruosa, nessa releitura é descrita como uma vítima… do ciúme de um pai que sente que está sendo desprezado por sua esposa e pelo orgulho de um inventor, Dédale, que, no entanto, obedece como um escravo .

Nesta nova versão do mito, Ícaro e Ásterion desenvolvem uma bela amizade contra todas as probabilidades. Eles brincam e crescem juntos, e quando Ásterion é finalmente trancado no labirinto desenhado por Dédalo, Ícaro não hesita em desafiar as proibições paternas, oferecendo ao espectador uma maravilhosa história humanista, e fazendo com que a obra ouse em se libertar da narrativa antiga, para encenar personagens que fogem de seus destinos com uma carga poética tamanha que não tem medo de enfrentar a tragédia. Ao introduzir essa amizade infalível na história mitológica, o filme traz uma espécie de doçura a ela. Essa irmandade infantil habilmente serve como uma porta de entrada para as crianças mais novas entrarem em um conto mitológico cruel e violento. Ademais, o diretor pegou outro personagem-chave, o rei Minos, e deu a ele interações relevantes e perturbadoras. Com isso, o filme convida o espectador a se perguntar: “Mas quem é realmente o monstro da história?”

Partindo para o lado mais técnico do filme, o estilo de animação utilizada combina 2D e 3D, e essa mistura sutil de desenho e 3D funciona perfeitamente. O filme deixa uma impressão de história em quadrinhos que ganha vida sem nunca chamar a atenção para a hibridização das técnicas (recurso esse que pode perfeitamente passar despercebido do grande público). Esta suposta mestiçagem pode ser detectada também na música que acompanha as aventuras e desventuras do jovem: uma delicada combinação de música barroca (Vivaldi, por exemplo) e música oriental, com timbres fantásticos que realmente acrescentam força à obra, potencializando, inclusive, a experiência proporcionada.

Ícaro e o Minotauro“, parafraseando o título do filme em países de língua espanhola, é uma proposta de animação diferente do que costumamos ver nos cinemas, pois procura levar o espectador à Mitologia Grega de uma forma leve, mas eficaz, para que se divirta, independentemente da idade. Trata-se de uma adaptação inteligente, que fantasia sobre uma amizade de infância que dá uma dimensão tocante ao mito do Minotauro. Uma bela história, no conteúdo e na forma, que faz você querer acompanhar o jovem herói até o fim, mesmo que isso signifique queimar suas asas com sua ardente amizade fraterna. Ícaro não é mais apenas “o menino que voou perto demais do sol”. Belíssimo trabalho!

O trailer sem legendas e narrado em francês segue abaixo.

Adriano Zumba

Obs.: Filme indicado por Luxemburgo à disputa pelo Oscar de Melhor Filme Internacional em 2023.


TRAILER

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