Joyland (2022)

País: Paquistão

Duração: 2 h e 06 min

Gênero: Drama

Elenco Principal: Rasti Farooq, Sarwat Gilani, Ali Junejo

Diretor: Saim Sadiq

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt19719976/


Citações:

  • “Quando levar dinheiro, ninguém se importará de onde veio!”
  • “Qualquer trabalho é melhor do que viver da mulher.”
  • “Teremos que lhe impedir de trabalhar?”
  • “Ela não é uma garota de verdade.”
  • “Vá pra seção dos homens.”
  • “…o destino do amor é a morte.”
  • “Eu sinto vontade de fugir!”
  • “É um menino. Por que tentaríamos de novo?”

Sinopse: Enquanto a feliz família patriarcal Rana anseia pelo nascimento de um menino, o mais novo de seus homens se junta secretamente a um teatro de danças eróticas e se apaixona por uma estrela transexual ferozmente ambiciosa.


Palavras-chave: amor, família patriarcal, LGBT, religião muçulmana, transexualidade.


ALEGRIA É O ÚLTIMO SENTIMENTO QUE SE PODE ENCONTRAR EM JOYLAND.


Joyland” é um filme que transita entre dois mundos: aquele que segue os ditames conservadores de uma sociedade alicerçada na teocracia vigente em um país muçulmano, o Paquistão, onde as mulheres, ou, para ser mais abrangente e honesto, os indivíduos que não são homens, normalmente são os mais penalizados; e aquele mais moderno (ou ocidental) que flerta com algum tipo de abertura à liberdade, por permitir, por exemplo, que pessoas com orientações sexuais diversas trabalhem, mesmo em tarefas consideradas “impuras”, como as praticadas no teatro de danças eróticas exibido no filme. É bom sempre lembrar que, em alguns países, a homossexualidade é punida com a pena capital. Desse modo, o filme em destaque toca em temáticas espinhosas para o microcosmo apresentado, principalmente a homoafetividade. Por conta disso, controvérsias pairam no horizonte e concedem à narrativa um viés de tensionamento sexual no tocante a seus principais personagens. Trata-se realmente de um filme pertinente e proibido em algumas localidades do Paquistão.

O primeiro dos mundos é prontamente apresentado. Uma família tradicional, com um patriarca centralizador, Abba, aguarda ansiosamente pela chegada de um novo componente, cujo sexo (masculino) foi revelado num ultrassom. O filho é do primogênito de Abba, Saleem, que está em polvorosa e louvando Alá de todas as formas por esse acontecimento (por ser um menino). O parto, que é uma das primeiras cenas do filme, revela dois dos protagonistas da trama, em um momento que revela também a intolerância contra pessoas “sexualmente diferentes” no país; além de alguns coadjuvantes e uma grande surpresa. Nesse contexto, o caçula de Abba, Haider, e a artista transexual, Biba, trocam olhares pela primeira vez quando Biba aparece toda ensanguentada no hospital ao tentar salvar a vida de uma amiga transexual vítima da intolerância existente em um país tomado pelo machismo muçulmano.

Entretanto, no primeiro mundo ora aludido, vemos algo estranho: Haider, que não trabalha, é “dona de casa” e é sustentado por sua esposa, Mumtaz, o que há tempos causa muito desconforto em Abba. É bom salientar que ao longo da narrativa vemos o frágil Haider sendo portador de uma sensibilidade muito aguçada para um homem inserido naquele contexto, sendo incapaz de abater um animal e tendo até interpretado Julieta do clássico de Shakespeare numa peça da escola. Logo, Haider consegue um emprego que sui generis para aquela sociedade, diga-se de passagem, e que ele faz questão de ocultar da família conservadora, mas quando finalmente há o anúncio, Mumtaz acaba proibida de trabalhar por intermédio dos homens da família, para que assuma as funções precípuas de uma mulher muçulmana. É importante notar que, como primeiro impulso, a jovem rechaça imediatamente a proposta, o que denota muita ousadia para aquela conjuntura. Já nesse ponto, o filme começa a jogar holofotes no âmago da jovem esposa de Haider, e isso será feito até o final, requerendo prioridade na atenção para essa característica do roteiro por parte do espectador, já que a moça é personagem-chave da trama, apesar de não parecer, visto que em boa parte do filme o foco recai na interação entre Haider e Biba, e todas as consequências que esse amor “bandido” poderá trazer para eles e para aqueles que estão em seus entornos. A degradação psicológica de Mumtaz a cada situação que vai se desenvolvendo no filme é o maior fio condutor da história, por incrível que pareça.

Biba é uma personagem interessante que alterna momentos de fragilidade com outros de muita força. É uma pessoa que não mede esforços para conseguir o que quer e acaba se apaixonando por Haider. Ela, juntamente com Mumtaz, são as principais representantes do segundo mundo aludido mais acima pela vontade de serem livres para viverem da maneira que quiserem. Em relação à Biba, é até de se estranhar, principalmente para olhares ocidentais, que num país muçulmano, transexuais trabalhem, contraiam matrimônio, mesmo em cerimônias informais, e se relacionem amorosamente, no entanto, tudo isso acaba tendo um preço, como mostrado na cena de Biba no hospital logo no início do filme. O grau de liberdade adquirido é diretamente proporcional à violência passível de ser vivenciada. Esse contexto acaba por moldar o interior da personagem de modo a adquirir bastante resiliência, coragem e determinação. De qualquer forma, dentro da narrativa, ela representa as dificuldades enfrentadas por pessoas com tal orientação sexual naquela sociedade, potencializadas pelo amor por uma homem ainda mais proibido, por já ser casado.

Joyland” se desenvolve com uma certa previsibilidade: a impossibilidade de haver um final feliz, pelo rumo que as coisas vão tomando com o passar do tempo. Trata-se de uma narrativa fácil de entender, mas difícil de aceitar, na qual o significado da palavra joyland, que é “terra da alegria”, só consegue aparecer nas cenas exibidas em um parque de diversões de mesmo nome. Trata-se de um filme que mexe com o espectador de diversas formas, ou seja, ninguém sai da jornada da mesma forma que entrou (isso é muito bom), e sair com o coração partido é uma tautologia. E, para piorar, segundo li, o filme é um reflexo da sociedade paquistanesa em sua forma mais crua e honesta, ou seja, é uma história tão real quanto a própria vida.

O trailer com legendas em inglês segue abaixo.

Adriano Zumba


TRAILER

8 comentários Adicione o seu

  1. kephasmnc disse:

    Uma das melhores surpresas de 2022!

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  2. PAULO ROMULO AQUINO DE SOUZA disse:

    Filme maravilhoso! Obrigado, Adriano!!!

    Curtido por 1 pessoa

    1. Disponha, meu camarada.

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  3. Paulo Rômulo disse:

    Adorei!!! Um dos melhores da categoria!!!

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  4. Jonas André disse:

    Amigos, boa tarde!
    Se possível, solicito que voltem a disponibilizar esse filme no blog para assistr/baixar.
    Agradeço pela atenção.

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  5. Amanhã te mando, Jonas.

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  6. Fernando Coelho disse:

    Filme maravilhoso. Dava-lhe 5 estrelas em 5.

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