A primeira profecia (2024)

Título original: The first omen

Países: Estados Unidos, Itália, Sérvia, Canadá

Duração: 1 h e 59 min

Gênero: Terror

Elenco principal: Nell Tiger Free, Ralph Ineson, Sonia Braga

Diretora: Arkasha Stevenson

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt5672290/


Citações: “E, Margaret, você sabe tão bem quanto eu que crença é poder. Agora, como você controla as pessoas que não acreditam mais em suas histórias de fogo e enxofre? Pessoas que não parecem temer? Você cria algo para temer. Esta Igreja manteve o poder por gerações. Milhares de anos. E eles não vão parar de mantê-lo assim por nada.”


Sinopse: Uma jovem americana é enviada a Roma para começar uma vida de serviço à Igreja. Ela acaba desvendando uma aterrorizante conspiração que deseja provocar o nascimento do mal encarnado.


AS ORIGENS DE UM PLANO SATÂNICO, ABRINDO PORTAS PARA O FUTURO DA NARRATIVA.


Já havia ficado impressionado por diversos motivos com “A profecia” (1976), e isso aguçou fortemente a minha curiosidade em conhecer a gênese de tudo aquilo, já que “teoricamente” ela seria mostrada no novo “A primeira profecia“. Mesmo que, no fundo, estava ventilando a possibilidade de me frustrar já que o primeiro filme tinha sido fantástico e fica a impressão à primeira vista de um aproveitamento a qualquer custo dessa excelência de outrora, adentrei na jornada e posso dizer que não me arrependi, pois os nós foram atados bem direitinho, coadunando com a narrativa pretérita, e, além disso, foi inteligente em escancarar uma porta para outros filmes no futuro (aí sim há um forte cheiro de filmes caça-níquel e “mais do mesmo”, assim como as continuações do filme de 1976). Mas, como o que importa neste texto é o filme em destaque, seguem abaixo minhas impressões.

O que mais me atraiu no filme realmente foi o direcionamento da narrativa de acordo com as frases indicadas nas citações, que coadunam com muito do que eu penso sobre a Igreja, mas isso é apenas um sentimento pessoal, e há muito mais pontos de interesse a discorrer. Trata-se de uma narrativa muito ousada, que trata a Igreja como uma poderosa manipuladora de massas, disposta inclusive a “vender sua alma ao diabo” pela manutenção de seu status quo. Na verdade, propõe uma ramificação da igreja formada por “discípulos de Satã” dispostos a pôr em prática o plano de viabilizar o nascimento do “filho do mal”, que sabemos que aconteceu na ficção proposta, pois “A primeira profecia” é uma prequela ou prequência do clássico do terror “A profecia“, quando fomos apresentados a toda a maldade oriunda do garoto Damien. Ou seja, o filme em tela tem um final conhecido, o que teria o condão de restringir aspectos surpreendentes, mas se engana quem acha que o filme se resume a apenas discorrer fatos que levaram ao fato mais importante, pois temos reviravoltas e surpresas que enriquecem sobremaneira a narrativa. De qualquer forma, tudo é muito polêmico pela essência do filme, contrastando fortemente com a imagem imaculada que é “vendida” sobre a Igreja. Imagino até que essa seja a causa da nota mediana em sites especializados que recebem notas do público, assim como os 119 minutos de duração – um pouco demais para um filme de terror.

O filme é alicerçado em personagens dúbios, que começam presumidademente seguindo um determinado e previsível caminho, o que torna a película um pouco enfadonha, mas terminam seguindo por outro caminho totalmente diferente. O próprio filme toma um rumo diferente em relação a sua intensidade, que é muito potencializada do meio para o fim, com cenas muito boas, de tirar o fôlego, apesar de ter um quê de “O bebê de Rosemary” (1968), entretanto, as coisas são muito mais bem produzidas por estarmos tecnologicamente muito à frente desses filmes de meados do século passado, proporcionando realmente uma ótima experiência ao espectador. O coito entre a mãe de Damien e o “coisa ruim” é impressionantemente bem feito e aterrorizante, além de outras cenas, como, por exemplo, a do nascimento do empelicado anticristo (e a incrível supresa que vem a reboque). Méritos da direção primorosa de Arkasha Stevenson.

O elenco é recheado de rostos conhecidos: os veteranos Bill Nighy (quanta diferença em relação a seu personagem em “Living” (2022)), Charles Dance, Ralph Ineson e nossa tupiniquim Sonia Braga, que constrói uma personagem hipermisteriosa e arrepiante em sua atuação, tornando-se um dos destaques do filme, juntamente com a intensa protagonista, interpretada pela jovem Nell Tiger Free. Deve-se destacar também a trilha sonora (assim como no filme original) do saudoso Ennio Morricone – apenas isso já é garantia de primor.

Finalizando, “A primeira profecia” honra seu filme original, sendo muito bem concatenado com ele no sentido do aparecimento e da precisão das referências do clássico (tem até uma 3×4 do Gregory Peck). Ademais, é um filme que vai direto ao ponto e não se preocupa em entrar em controvérsias e chocar, tendo a coragem como um de seus diferenciais. Realmente, é um dos melhores filmes de terror de 2024 até o momento.

O trailer com legendas em português segue abaixo.

Adriano Zumba


TRAILER

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.