Ele está de volta (2015)

Título original: Er ist wieder da

Título em inglês: Look who’s back

País: Alemanha

Gêneros: Comédia

Diretor: David Wnendt

IMDB: www.imdb.com/title/tt4176826/


Eis um dos filmes mais interessantes a que assisti nos últimos meses.  Em tom de comédia, com um certo humor negro, ácido ou satírico, alerta-se para o fascínio que as ideologias nazistas ainda provocam nas pessoas, não só na Alemanha, mas em todo o mundo – basta vasculhar a internet para constatar a quantidade de grupos neonazistas que hoje existem. Após a exibição, saímos com um sorriso no rosto, mas com um ar de preocupação. É um filme impactante! O filme foi baseado no livro do escritor alemão Timur Vermes, o qual também escreveu o roteiro.

Em um fatídico dia ensolarado, após um fenômeno sobrenatural, alguém aparece deitado no chão de um lugar que, um dia, abrigou o bunker onde Adolf Hitler se suicidou. Era o próprio Hitler, que recebera uma segunda chance e estava de volta à vida, só que em pleno século XXI, mais especificamente no ano de 2014. Rapidamente, Hitler conquista espaço na mídia, em virtude de sua semelhança com o “Hitler de antigamente”, mas suas palavras, que todos estavam considerando engraçadas, na verdade, eram tão perigosas quanto àquelas entoadas como uma religião pelo próprio ditador nas décadas de 30 e 40 do século XX. Ele estava de volta!

O filme possui cenas ficcionais, como não poderia deixar de ser, e reais, principalmente cenas parecidas com um reality show, no qual o protagonista, devidamente caracterizado, dialoga e interage com pessoas comuns e sente na pele o grau de receptividade à imagem do führer – palavra comumente atribuída a Hitler, que significa líder em alemão. O estarrecedor é que, ao passo que alguns o repudiam, outros o veneram e o recebem de braços abertos. É bom lembrar que o personagem em tela foi um dos representantes do Diabo na terra, que, com sua disseminação de ódio, assassinou milhões de pessoas, em nome da purificação da raça humana.

Em relação ao roteiro, há subdivisões bem definidas. Após a apresentação dos outros personagens principais – Hitler não precisa de apresentações -, a narrativa mostra a adaptação do protagonista – um homem do passado – à vida do século XXI. Nesse ponto, a figura de Hitler se torna até irrelevante, pois qualquer pessoa vinda do início do século XX sentiria enormes dificuldades para se adequar à formatação do mundo moderno, principalmente em relação à tecnologia; além das roupas, alimentação, etc. Passada a fase da adaptação, com Hitler já tendo conseguido espaço na mídia, mesmo como um comediante ou palhaço, começa a fase de discussão política, com as manifestações ideológicas do protagonista. Vemos, nesse ponto, o poder manipulador que a mídia em geral exerce sobre a população, e os efeitos persuasivos perigosos que ela pode acarretar, através da divulgação de informações nocivas, independentemente de ideologia – o nazismo aqui é só um exemplo -, principalmente pelo poder imenso de disseminação da informação que temos nos dias atuais. Também há que se destacar o poder da oratória do protagonista que, diga-se de passagem, é a principal característica de um político bem-sucedido em seu ofício. Nota-se que Hitler era um exímio político manipulador de massas, e eleito pela população, que escolheu alguém com ideias diferentes. Isso já nos faz entender o tamanho da responsabilidade que temos ao eleger os nossos governantes. Podemos assumir que as duas fases narrativas aludidas anteriormente foram o primeiro e o segundo ato do roteiro. O terceiro e último, no qual o desfecho ocorre, além de possuir uma passagem metalinguística bastante interessante, é aquele ato que serve como “abridor de olhos”, que balbucia uma mensagem de precaução e cuidado. O racismo, a intolerância, o nacionalismo exacerbado estão presentes em todos os lugares, principalmente nas mentes das pessoas, e não é preciso muito incentivo para que eles, de alguma forma, se materializem. No filme, é citada até a dificuldade dos imigrantes – tema que esteve tão presente nos noticiários dos últimos anos -, pela rejeição de alguns países. Para finalizar, da boca do próprio Hitler, sai uma mensagem conclusiva e de alerta, como visto abaixo:

– “Você nunca se perguntou por que as pessoas me seguem?”

– “Porque, no fundo, elas são como eu. Têm os mesmos princípios.”

O mundo está em constante evolução, mas nada obsta que ideias ou ideologias do passado – mesmo nocivas -, voltem à tona. O nazismo, como se vê, não morreu. Ele está mais presente do que nunca. Desde a década de 70, pessoas com ideais nazistas se reúnem ao redor do globo, e, com o poder tecnológico que temos hoje, o mundo deve estar sempre vigilante quanto ao assunto, pois, infelizmente, ele ainda é um tema bastante atual, sedutor e potencialmente destrutivo. Assim como em “O grande ditador“, de Charles Chaplin, o tema é tratado com irreverência e aproveita a oportunidade para tecer uma crítica política e social elegante. É rir para não chorar!

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba


7 comentários Adicione o seu

  1. Maria José Castro d'Almeida Lins disse:

    Ótima resenha! Agora não há como deixar de ver o filme.

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    1. Obrigado Maria. O filme é muito bom e consegue ser engraçado é assustador ao mesmo tempo.

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  2. Ana Paula disse:

    Ótima a tua resenha, me deu vontade de assistir. Esse tema é extremamente atual, vou procurar.

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    1. Obrigado Ana Paula. Esse filme é espetacular mesmo. Pode assistir, divertir-se e assustar-se.

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