Shayda (2023)

País(es): Austrália

Duração: 1 h e 57 min

Gênero(s): Drama

Elenco principal: Leah Purcell, Zar Amir Ebrahimi, Jillian Nguyen

Diretor(a): Noora Niasari

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt13200006/


Citações:

  • “Você ainda é minha esposa.”
  • “Sabe o que vão fazer com você quando voltar ao Irã: vão de matar!”
  • “Ele tá perdido?”

Sinopse: Uma jovem mãe iraniana e a sua filha de seis anos encontram refúgio num abrigo para mulheres australiano durante as duas semanas do Ano Novo iraniano (Nowruz).


O SUBJUGAMENTO DA MULHER NUMA SOCIEDADE OPRESSIVA.


O indicado pela Austrália ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2024 nem empolga, nem desanima. Trata-se de um bom filme, que aborda temáticas exaustivamente trabalhadas pela sétima arte, sobretudo em narrativas vindas de países asiáticos e africanos, mas que são tão importantes, principalmente em dias mais “livres” como os de hoje (pelo menos para a população ocidental), que acabam promovendo algum tipo de atratividade. Entretanto, inegavelmente, fica aquela sensação de mais do mesmo. Como se a temática já estivesse exaurida.

Shayda é iraniana e chega na Austrália com sua filha Mona para fugir de seu marido agressor, Hossain. Lá, ela é acolhida, mas o medo não deixa de lhe perseguir. Concomitantemente, Hossein vai estudar numa universidade do país e consegue na justiça acesso temporário à filha, portanto, Shayda é obrigada a interagir com ele e suportar seus assédios, pedidos e ameaças.

Shayda” é o típico filme que trabalha a condição da mulher numa sociedade teocrática, a despeito de se passar num país ocidental. Ao chegar na Austrália, Shayda tem contato com um novo mundo, onde as mulheres têm o livre arbítrio para fazer o que quiserem, sem normas que as imponham uma linha de conduta submissa e cheia de restrições, simplesmente por terem o sexo que têm. O contraponto cultural provocado por a narrativa se passar em outro país é interessante, principalmente quando ela tem um contato mais próximo com a “liberdade ocidental”, como na boate, por exemplo, onde até conhece um rapaz, Farhad, e um certo “clima” acaba aparecendo. Por outro lado, a atuação de Hossein no caso em tela e também de algumas pessoas da comunidade iraniana que lá residem a lembram o tempo todo que sua liberdade é absolutamente relativa, pois seu sangue iraniano e sua condição de casada a diminuem perante a sociedade e a seu marido. E enquanto o divórcio não é efetivado, lembranças do passado a assombram e também o medo de perder Mona pela aplicação de leis que, por óbvio, protegem e privilegiam o homem. Há um exemplo muito interessante disso no filme, que mostra uma personagem que chega no albergue e não vê o filho há 886 dias, pois seu ex-marido, através da justiça, conseguiu a guarda da criança. Na verdade, para cada medo de Shayda, o filme arruma uma forma de potencializá-lo, intensificando também a angústia do espectador.

Há um ponto que desagrada um pouco: o roteiro concebe a protagonista um tanto quanto inocente considerando o contexto. Trata-se sim de uma mulher carente, amedrontada, saturada de toda repressão que lhe é imposta e, após décadas de observação da realidade no Irã, sabedora das sanções e punições a que pode ser submetida por conta das leis de seu país de acordo com as atitudes que porventura venha tomar. Entretanto, ela acaba se deixando influenciar pelas amigas (para que “viva sua vida”) e se deixando levar pelos galanteios de Farhad, mesmo com o pé atrás e demonstrando alguma resistência em relação a seus sentimentos. A ciência que ela possui em relação aos riscos e aos julgamentos que viria a sofrer, a despeito de sabermos que o ser humano é bastante falível, repele por não adentrar em uma seara mais racional, principalmente pela sua convivência com Mona que estaria bastante ameaçada – e isso é o que de mais caro há para Shayda. E, para piorar, Hossein se encontra assediando Shayda diuturnamente quando tem oportunidade, sobretudo exteriorizando aquele sentimento de posse intrínseco que homens muçulmanos têm em relação às mulheres, mas demonstrando, falaciosamente ou não, alguma sensibilidade (esse julgamento fica a cargo do espectador). Portanto, percebe-se uma personagem mal construída nesse aspecto (apesar de ser uma história real), mesmo considerando-se todos os atenuantes identificados na situação. Idiotice e/ou impulsividade incomodam – pelo menos a mim.

Ademais, há passagens que remetem à cultura e à arte iranianas, às tradições que marcam o início de um novo ano persa, o Nowruz, que são realmente interessantes e agregam realidade à narrativa, desnudando para o mundo através do cinema nuances provavelmente desconhecidas do espectador, que aprende um pouco mais sobre cultura geral – e isso sempre é pertinente e desejável.

O desfecho, através das ações exibidas, transmite um sentimento de revolta, de não aceitação, de uma presumida injustiça por parte de alguém acostumado a ser privilegiado em todas as esferas da sociedade iraniana, em situações em que vão de encontro a interesses do sexo oposto. Com isso, o principal agente de tais ações acaba infringindo as leis do país em que está, a Austrália, por um desespero causado por seu sentimento deturpado de legalidade, que só encontra guarida na teocracia de seu país-natal. E com a luxuosa e competente atuação do elenco que mostra um trabalho realmente muito bom, tudo acaba se tornando verossímil e aceitável (com ressalvas), o que é intensificado por se tratar de uma história real.

O trailer com legendas em inglês segue abaixo.

Adriano Zumba


TRAILER

2 comentários Adicione o seu

  1. Fernando Coelho disse:

    Bom filme, com uma realidade muito pertinente.

    Curtido por 2 pessoas

  2. Agradecemos a indicação do filme. As mulheres iranianas são corajosas, exemplo para todas nós de resistência e perseverança contra o machismo e opressão patriarcais. Merecem todo o nosso apoio e sem dúvida merecem vitória em seu movimento “Mulher Vida Liberdade” (Jin Jian Azadi).

    Curtido por 1 pessoa

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