Análise sobre o Oscar de melhor filme estrangeiro 2018

Estamos a poucas semanas da maior premiação do cinema mundial. Os filmes concorrentes já estão sendo exibidos nos cinemas de todo o mundo, e as pessoas já estão escolhendo seus preferidos. Como o blog dá preferência ao cinema dos mais diversos países do mundo, vou fazer uma análise sobre os filmes que disputam a estatueta de melhor filme estrangeiro e apontar meu favorito. Segue abaixo.

Começo com uma análise mais minuciosa de cada concorrente, através das críticas já publicadas no blog, já que neste post tratarei da disputa em si.

Para chegar a um favorito, devemos levar em consideração o perfil dos votantes, o qual se relaciona diretamente com as escolhas de anos anteriores. Nessa categoria, não há termômetros, já que os votantes do Globo de Ouro e o Critic’s Choice Awards são diferentes – nessas premiações votam, respectivamente, jornalistas e críticos de cinema. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas é composta, em suma, por indicados ao Oscar em anos anteriores, de todas as categorias da premiação. Por essa informação e por se tratar de um prêmio da indústria americana de cinema, apesar da sétima arte ser globalizada, depreende-se que a maioria esmagadora dos votantes seja composta por pessoas americanas. Historicamente, o cinema americano é conservador e produz filmes da “maneira hollywoodiana“, ou seja, é pouco aberto ao valor artístico de suas produções.  Afirmo que um filme considerado “filme de arte” dificilmente ganhará um Oscar de melhor filme ou filme estrangeiro. Afirmo, também, que um filme desse tipo tem muito mais chance de ganhar um Festival de Cannes, Veneza ou Berlim, que são prêmios do cinema da Europa, onde se originaram os principais movimentos cinematográficos de vanguarda da história: o neorrealismo italiano, o expressionismo alemão e a Nouvelle Vague francesa. Com tudo isso, quis salientar que o perfil dos votantes do Oscar é tradicionalista.

Mesmo que fôssemos levar em consideração as duas premiações citadas acima (Globo de Ouro e Critic’s Choice Awards), o vencedor de ambas foi o filme alemão “Em pedaços”, que não foi selecionado para integrar os finalistas ao Oscar. Vamos, então, verificar as premiações de cada um dos filmes em outros festivais relevantes ao redor do mundo, para tentarmos chegar a um favorito. “Corpo e alma” ganhou os três principais prêmios do festival de Berlim em 2017 (Urso de ouro, prêmio do júri ecumênico e FIPRESCI) – algo muito difícil de acontecer. “Sem amor” ganhou o prêmio do júri do Festival de Cannes – a segunda mais importante premiação do Festival -, além de ser indicado ou vencedor em várias disputas de filmes estrangeiros ao redor do mundo. Foi também indicado ao BAFTA 2018 – o único entre os 5 concorrentes ao Oscar. “The square” ganhou a Palma de ouro no Festival de Cannes 2017 e foi ganhador dos principais prêmios dos críticos dos mais diversos estados americanos, que não possuem – ou possuem poucos – votantes no Oscar. “Uma mulher fantástica” e “O insulto” não ganharam premiações relevantes. Nota-se que, se o Oscar fosse europeu, teríamos pelo menos 3 fortes concorrentes.

Em relação à qualidade dos filmes em si, vejo 5 filmes excepcionais. Eu diria que não há favoritos, mas, como tenho que escolher um, continuemos a análise. “Corpo e alma” e “The square” partem mais para o lado do cinema de arte, ao passo que “O insulto“, “Sem amor” e “Uma mulher fantástica” são filmes mais acessíveis e, por conseguinte, mais inteligíveis pela maioria dos espectadores. “The square” é, de longe, o filme mais rico dos 5, artisticamente falando, e é o menos acessível, por ter uma temática complexa e ter sido produzido baseado em detalhes narrativos para levar ao entendimento. Pela qualidade, seria o meu favorito. “Corpo e alma” também é um filme artístico e complexo, e apresenta cenas de muito mau gosto, por se passar em um matadouro. No meu entender, isso tira dele um pouco do brilho, apesar de ter uma história interessante baseada num ambiente onírico. Está ficando evidente que estou caminhando para escolher um dos 3 filmes restantes como favorito, pela narrativa mais conservadora, que combina com o perfil dos votantes da Academia. Todos 3 versam sobre temas atuais. “O insulto“, sobre intolerância político-religiosa, que sempre existiu e ainda é um tema bastante relevante, principalmente em países asiáticos; “Sem amor” possui um título que evidencia sua temática; e “Uma mulher fantástica“, sobre o preconceito contra o público LGBT e a busca da dignidade. Dentre os 3, a história que mais me tocou foi a de “Sem amor“. É uma história que mostra, de maneira genérica e abrangente, a inversão de valores e mundo fechado e medíocre em que vivemos hoje em dia; o mundo das facilidades e futilidades – e ainda mostra um exemplo de suas conseqüências, que é a trama principal da narrativa. Achei uma leitura interessantíssima da conjuntura moderna. O filme chileno “Uma mulher fantástica” é tão angustiante quanto, porém foca num ponto específico, o sofrimento de um transsexual em virtude do preconceito. Acho que uma análise mais ampla sobre o assunto seria salutar, apesar do filme realmente ser muito apreciável. “O insulto” é magnífico e desnuda, desde a origem, o ódio reprimido entre os povos residentes no Líbano.

Dentre os 3, escolho a narrativa mais inovadora e extensiva. Minha escolha é o filme russo, “Sem amor“, apenas por estarmos tratando especificamente do Oscar; porém, meu conhecimento sobre cinema e meu senso crítico me levam a escolher “The square“, pois é uma excelente representação do que chamamos de arte – apesar de não desejar que ele vença, pois sempre parto do princípio de que o cinema deve ser democrático, ou seja, não deve atrair apenas críticos ou espectadores mais “avançados”, e sim os espectadores em geral. “The square” é o típico filme que os críticos adoram, entretanto, tenho a certeza de que muita gente nem mesmo entende a história. Que a maldição de Cannes se repita: o ganhador de Cannes dificilmente ganha o Oscar de melhor filme estrangeiro. Isso só aconteceu três vezes, com os filmes “Amor” (2012) , “Pelle, o conquistador” (1988) e “Orfeu negro” (1959).

É bom lembrar que, nessa categoria do Oscar, é comum acontecerem surpresas. Como todos os filmes são excepcionais, o jogo está aberto.

Agora é esperar o dia 04 de março de 2018 e ficar na torcida por seu filme predileto.

Minha aposta já está feita! Na torcida pela Rússia, afinal, neste ano, a Copa do Mundo de Futebol é lá, e, nesse torneio, torcerei pelo meu querido Brasil! Que o anfitrião ganhe no cinema, porque, no futebol, a taça é nossa!  : – )

Adriano Zumba

2 comentários Adicione o seu

  1. Wallace disse:

    Só não vi, ainda, “O Insulto”. Eu votaria em “The Square”! Mas “Uma Mulher Fantástica” que ganhou! Achei “The Square” bem mais rico em vários detalhes, como fotografia e produção, mas acredito que os membros da academia votem pela relevância do tema abordado na atualidade! Eu, particularmente, não sei se é justo que um tema relevante de um determinado filme, tenha um peso maior que o todo, de um outro concorrente!

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    1. Wallace, The Square tem cara de Cannes mesmo, só isso. É um filme riquíssimo, mas, de qualquer forma, o Oscar está em boas mãos.

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