Bagdad Café (1987)

Título original: Out of Rosenheim

Países: Alemanha, Estados Unidos

Duração: 1 h e 35 min

Gêneros: Comédia, drama

Elenco Principal: Marianne Sägebrecht, CCH Pounder, Jack Palance

Diretor: Percy Adlon

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0095801/


Há diversos motivos para que um filme se torne marcante. Considero que, dentre estes tais motivos, o mais importante é o roteiro, pois é através de sua capacidade de envolver o espectador que uma determinada história permanece viva na memória. Qualquer outro motivo – fotografia, trilha sonora, elenco, montagem, etc. – considero como secundário, porque, apesar de integrarem o conjunto harmônico de aspectos que compõem uma obra cinematográfica, elas possuem, por natureza, um caráter acessório. “Bagdad Café” figura no rol de filmes marcantes por motivos acessórios, pois seu roteiro deixa muito a desejar, principalmente para cinéfilos mais exigentes, apesar de promover bons sentimentos como resultado final à sua exibição. Discorrerei mais sobre esta percepção íntima à medida que este texto for se desenvolvendo.

Eis a sinopse: “Uma turista alemã que está visitando os Estados Unidos, Jasmin, briga com o marido e é deixada no meio de uma estrada deserta. Após uma longa caminhada, acaba chegando no Bagdad Café, um estabelecimento que funciona como posto de gasolina, bar e motel, e tem como proprietária a explosiva Brenda, uma mulher rude, ignorante e com problemas conjugais. Após interagir com os mais diversos tipos de pessoas que frequentam e trabalham no local e despertar desconfiança em Brenda, por sua estadia misteriosa, Jasmin busca modificar o astral do ambiente através de sua alegria, seu carisma e suas habilidades como mágica. Com isso, busca também uma aproximação com Brenda, apesar de todos os pré-julgamentos advindos da proprietária.”

Como sugeri no primeiro parágrafo, o roteiro do filme em tela é seu calcanhar de Aquiles, pois há, desde o início, com a briga de Jasmin e seu marido, passagens mal-explicadas e dotadas até de certa surrealidade – deixar uma estrangeira perdida numa estrada no meio do nada não é algo natural. No entanto, o foco narrativo restrito a apenas uma simples trama – a aproximação entre as protagonistas – é o que mais incomoda. Não há sub-histórias relevantes, e mesmo o desenvolvimento do único e principal argumento derrapa quanto à capacidade de produzir meios para justificar o fins. Por exemplo, o momento de virada do filme, quando as protagonistas finalmente começam a se entender, é marcado apenas por uma frase, isto é, o entendimento é súbito, não é algo paulatino, não é algo que se constrói com o tempo. No meu entender, foi uma tentativa fracassada de promover um plot twist. Temos que convir que uma história que versa apenas sobre um assunto é pobre pelo poder que o cinema possui de manipular várias informações de forma concomitante e as apresentar das mais variadas formas para seu público sem prejudicar a inteligibilidade da obra. É um filme que transpira ingenuidade em sua narrativa e em sua construção. É necessário salientar também que é preciso mais de uma hora de filme para que o espectador consiga identificar qual o rumo que a narrativa vai seguir, ou seja, o mote do filme.

Bagdad Café” funciona melhor como comédia do que como drama, principalmente por apresentar personagens caricatos – exagerados ao extremo – ao exibir características marcantes e principalmente defeitos que os definem. Isso me incomodou bastante durante a jornada, pois eu não estava assistindo a um filme de Fellini, apesar de ter a expectativa que a personagem Jasmin se transformasse em uma personagem “felliniana” com o tempo, pela conjuntura que se desenhava para ela – e também pelo seu biotipo e a exibição fácil de suas grandes tetas, que me fizeram lembrar automaticamente de “Amacord” (1973) e “Cidade das mulheres” (1980) -,  mas meus anseios não se realizaram, pela falta de ousadia narrativa. Notem que esta ousadia abunda nos personagens, mas é inexistente na história em si. No entanto, há passagens espetaculares, como o desabrochamento da margarida, diga-se, Jasmin, ao ter a sua imagem pintada em quadros pelo velho hippie Rudi Cox. Trata-se de uma sequência de cenas libertadora e engraçadíssima, que tem fundamental importância para a continuação da obra.

Apesar de ser uma história simplória e não ter grandes atrativos, o filme é desenvolvido para adentrar no âmago das pessoas através do poder cativante que caracteriza o sentimento da amizade. É impossível não se identificar com personagem Jasmin, por sua “volta por cima” e seu carisma. É impossível não se divertir com a atuação exagerada dos personagens. É impossível não apreciar a canção principal do filme, “Calling You“, cantada por Jevetta Steele, que, inclusive, foi indicada ao Oscar de melhor música em 1989.  Talvez, por estas razões, entre outras, “Bagdad Café” é considerado como um filme cult e tenha conseguido um lugarzinho no coração de muitos espectadores ao longo do tempo. É um filme que deixa boas mensagens, boas vibrações, muita alegria e um sorriso espontâneo no rosto, no entanto, não é o que se pode chamar de obra-prima. Não deixa de ser um bom divertimento e uma boa recomendação para quem deseja um filme leve após um dia cansativo, pois transmite apenas o bem.

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba


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