Título original: C.R.A.Z.Y.
País: Canadá
Duração: 2 h e 07 min
Gêneros: Comédia, drama
Elenco Principal: Michel Côté, Marc-André Grondin, Danielle Proulx, Émile Vallée
Diretor: Jean-Marc Vallée
IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0401085/
Opinião: “A reafirmação do amor sob os olhos do preconceito.”
Citação: “Deus trabalha de maneiras misteriosas.”
Nos dias atuais vivenciamos e presenciamos tempos de obtenção de direitos e liberdades para pessoas homossexuais em vários países do mundo – até a palavra sexo se transformou em gênero para se adequar à nova realidade – e, mesmo assim, há quem não concorde, quem reprima e quem repudie. O filme em tela se propõe a voltar no tempo – mais precisamente à década de 60 do século XX -, quando o preconceito contra as pessoas consideradas “diferentes” em relação a suas orientações sexuais era extremamente maior e mais disseminado, originando-se a partir da família, dos ciclos de amizade, da sociedade em geral, etc. Daí, o ousado roteiro insere um personagem homossexual nesta intolerante conjuntura para ver o que acontece. O resultado disto tudo vale a pena acompanhar.
Eis a sinopse: “Na cidade de Quebec dos anos de 1960, Zachary Beaulieu, ou, simplesmente, Zac, o quarto filho de uma família com 5 irmãos – bastante heterogêneos em suas características, diga-se de passagem -, vive o despertar da sua homossexualidade. A fim de ficar em paz com sua própria identidade, precisa lidar com uma mãe muito religiosa e um pai exigente e conservador.”
O filme em tela é bastante organizado e correto no intuito de implementar a sua estratégia narrativa, que é construída tijolo a tijolo e vagarosamente no período de uma década, na qual é desenvolvido o ambiente perfeito – nocivo e repressor -, para que o preconceito seja exteriorizado em sua plenitude. O principal responsável por essa “obra” é o patriarca da família Beaulieu, Gervais: o “macho alfa”, o homem com H maiúsculo, o marido fecundador, o pai com punhos de ferro, mas que nutre, escondido atrás de sua masculinidade, extremo amor por seus filhos. Nota-se prontamente que a relação entre pai e filho – Zac – é o principal ponto de interesse do filme, apesar de haver mais “inimigos” pertinentes, como o irmão mais velho, Reynold, o qual, mesmo sendo rebelde e drogado, recebe bastante atenção do pai pelo simples fato de fazer sucesso com as mulheres. Nota-se claramente que há um embate entre preconceito e o amor, que, em busca de um denominador comum ou um ponto de equilíbrio, renderá bastantes reflexões e cenas interessantíssimas, pois Zac passa por várias fases na afirmação de sua identidade, inclusive a negação, o desespero e, finalmente, a aceitação. Contrastando com a pungência da homofobia de Gervais, deve-se salientar que é muito sutil o tratamento dispensado à homossexualidade de Zac, que, diga-se de passagem, adequa-se mais ao conceito de transsexualidade – o próprio fato de o filme fazer questão de mostrar a infância do jovem já corrobora com esta afirmação. A delicadeza empregada no trato de um assunto tão espinhoso poupa o espectador de qualquer tipo de desconforto ou agressão visual ao não exibir, por exemplo, uma cena de sexo homossexual ou mesmo qualquer relação mais íntima ou explícita, pois a própria narrativa já possui elementos mais do que suficientes para chocar e causar polêmica.
Apesar de a linha temporal estar há décadas de distância, o filme é bastante jovem e moderno, pois seus aspectos cinematográficos contribuem sobremaneira para isso, e não apenas por contar com personagens de pouca idade e irreverentes e rebeldes por natureza: a montagem é bastante atrativa aos olhos e apresenta diversos efeitos visuais que realizam, entre outras tarefas, a transição entre as épocas que o filme referencia; a trilha sonora é alicerçada sobre muito rock n’ roll, com músicas de Pink Floyd e Rolling Stones, por exemplo, apesar de dar bastante destaque a canções de Charles Aznavouz; e, como não poderia deixar de ser, as temáticas trabalhadas são absolutamente atuais.
A mensagem final é muito gratificante, principalmente por ter sido desvendada com muita dificuldade – praticamente “a fórceps”. O mais belo de tudo é que os julgamentos e concepções pré-estabelecidos – e potencializados pela época – vão sendo desconstruídos ao final do filme em nome do amor, mesmo que, para isso, tenha que ocorrer uma tragédia e uma ferrenha luta íntima. O certo é que finalmente temos um título em português que coaduna perfeitamente com a ideia central da narrativa, pois os personagens só estavam “loucos para amar”.
O trailer, bem como o filme completo, ambos com legendas em português, seguem abaixo.
Obs.: Nos últimos segundos, o significado de C.R.A.Z.Y. é revelado. Prestem atenção.
Adriano Zumba
TRAILER
FILME COMPLETO
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