O atentado (2012)

Título em inglês: The attack

Países: Líbano, França, Catar, Bélgica

Duração: 1 h e 42 min

Gêneros: Drama, guerra, mistério

Elenco Principal: Ali Suliman, Reymonde Amsallem, Evgenia Dodina

Diretor: Ziad Doueiri

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0787442/


Talvez, nós da parte ocidental do globo não consigamos ter um bom entendimento sobre o conflito histórico entre Israel e Palestina – e outros países coadjuvantes e agregados – que perdura até os dias atuais -, pela grande quantidade de variáveis embutidas neste processo e pelo extremismo aplicado por ambos os lados na prática de atos relacionados a seus interesses. Considerando esta conjuntura, o diretor libanês Ziad Doueiri produziu uma obra que não se propõe a explicar a gênese do conflito e tão pouco desnudá-lo em algum momento da linha temporal, ou seja, não se trata de um filme histórico, pois seu foco recai sobre as pessoas que se encontram inseridas no meio do fogo cruzado dessa “guerra sem fim” e possuem suas opiniões e crenças sobre o tema. Através de dois protagonistas, que são marido e mulher, e uma situação específica – e até usual pelo que observamos costumeiramente na mídia – o diretor representa toda uma população de judeus, cristãos e muçulmanos, que é quem realmente sente na pele as consequências da falta de entendimento. O cinema já retratou o conflito diversas vezes e com diversos vieses. “O atentado” escolheu o lado humano da história para chocar seus espectadores, pois não há outro tipo de sentimento que possa ser despertado após a exibição de suas cenas. Trata-se de um filme com uma carga dramática hiperbólica, mas bastante pertinente em tempos de intolerância e disseminação de ódio, como os que vivemos atualmente.

Eis a sinopse: “Um cirurgião árabe que vive em Israel, Amin Jaafari, descobre que sua esposa palestina, Siham Jaafari, participou de um ataque terrorista a um restaurante cheio de crianças israelenses em Tel Aviv. Poucos minutos antes  do atentado, ele estava sendo reconhecido pelo governo local  por seu trabalho como médico. Nesse contexto, após o impacto inicial e a interação violenta com a polícia israelense, Amir vai tentar desvendar todo mistério que cerca o acontecimento.”

Como se depreende ao ler a sinopse, trata-se de um filme sobre motivações e não sobre um ato terrorista propriamente dito. Há a proposta de mostrar como as situações nocivas vividas por quem está inserido num ambiente beligerante mexem com a percepção e a lógica das pessoas, as quais, como não podia deixar de ser, de alguma forma já tomam parte no conflito, mesmo que seja apenas intimamente, apesar de não ser o padrão real. O filme mostra que é impossível ficar alheio à conjuntura, principalmente pelo fanatismo religioso que se cultiva naquela região. Nota-se que Amim é um “intruso” em terras cristãs por ser árabe. Fato este que é até esquecido por conta do bom serviço que presta, através da prática da medicina, para a sociedade israelense, no entanto, o roteiro faz questão de ressaltar que há, ocultos no íntimo de cada pessoa que vive na “terra santa”, independentemente da religião que segue ou do local em que mora, ressentimentos nocivos e grande desconfiança, que podem gerar ações impensadas e pré-julgamentos ao mínimo sinal de “perigo”. Uma faísca provoca um incêndio. Imaginem uma bomba! Preciso ressaltar que o filme constrói muito bem essa aura duvidosa para seus personagens vivenciarem ficcionalmente, mas com um caráter deveras realístico, o drama sugerido. Para colocar uma variável a mais nesse sistema, o roteiro planta dúvidas em relação ao sentimento compartilhado pelo casal, principalmente em relação ao que Siham sente por Amim. O amor é colocado em xeque, mas a história, aos poucos e bastante sutilmente, sugere um caminho lógico para esse sentimento. Cabe ao espectador ter a capacidade de interpretá-lo, tomando como base a percepção das posições antagônicas que os protagonistas nutrem em relação àquele contexto perverso.

Nas cenas reservadas à busca de respostas por parte de Amim, o filme perde um pouco do fôlego, pois fica menos ágil e mais complexo, porque requer de seu público um mínimo conhecimento prévio sobre a história real do conflito. Mesmo tendo buscado informações antes de assistir ao filme, por vezes me senti perdido, principalmente no que concerne às religiões dominantes nas mais diversas localizações geográficas dentro dos países. Em uma entrevista que li do diretor, a cidade de Nablus, na Palestina, que é muçulmana, foi, por conveniência própria transformada em cristã. Tudo isso para enfatizar que a luta entre palestinos e israelenses não é meramente de cunho religioso, como no Iraque ou na Síria, mas uma questão de nacionalidade. Não é uma questão de ser muçulmano, judeu ou cristão. Para quem não sabe, há cristãos no mundo árabe, os quais são pessoas proeminentes, mas ninguém fala sobre elas. Gostei bastante desta mensagem que o filme se propõe a transmitir. Nota-se claramente que o diretor não escolhe um lado. Como já salientei mais acima, o interesse é humano – e isso transcende qualquer motivação para uma guerra ou ato terrorista. Apesar de a obra prezar pela isenção, foi proibida no mundo árabe. Quem consegue entender? Tudo isso é mais complexo do que podemos imaginar.

Mais do que buscar motivações, “O atentado” levanta questionamentos sobre o grau de conhecimento que uma pessoa supostamente possui sobre o seu cônjuge – ou a pessoa com quem compartilha a vida -, entretanto, melhor limpar a alma, preparar-se para assistir a uma narrativa tensa e curtir mais esta excelente produção do cinema libanês, que vem surpreendendo nos últimos anos e cada vez mais conquistando seu espaço no mundo cinematográfico. O certo é que a vida pode não ser tão perfeita como é mostrada, principalmente para quem vive em meio ao caos, mesmo que, em um determinado momento, esteja adormecido. A nobreza do desfecho já vale a exibição, mas, constata-se que se trata de um filme bem acima da média. Vale a pena ser apreciado!

O trailer, com legendas em inglês, segue abaixo.

Adriano Zumba


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