Post Mortem (2010)

Países: Chile, Alemanha, México

Duração: 1 h e 38 min

Gênero: Drama

Elenco Principal: Alfredo Castro, Antonia Zegers, Amparo Noguera

Diretor: Pablo Larraín

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt1714886/


Opinião: “Lento, aparentemente desinteressante, mas bastante pertinente.”


A expressão latina post mortem, cujo significado literal é “depois de morto” ou “depois da morte”, pode ser atribuída a várias situações e a principal delas remete à exploração médica de cadáveres com o fim de obter informações relevantes sobre as causas e circunstâncias da morte de um indivíduo. Trata-se do conhecido procedimento chamado de autópsia. Para o propósito deste post, esse sentido é mais pertinente, pois tem ligação íntima com o filme em tela, pois o seu protagonista lida diretamente com o pós morte através de seu ofício: assistente de patologista.  Por sinal, a morte vagueia livremente pelo contexto histórico a que o filme faz referência: o golpe militar no Chile em 11 de setembro de 1973. O diretor Pablo Larraín utiliza aquele momento temporal tão importante para mostrar apenas mais um recorte ficcional daquela época, que, diga-se de passagem, transpira realidade através de um simples exercício de imaginação. É uma história acessória dentro da história principal: a do país sul-americano.

Eis a sinopse: “Um homem de meia idade que lida com a morte todos os dias pelo seu trabalho, Mario Cornejo, apaixona-se por uma dançarina comunista, Nancy Puelma, durante o golpe militar no Chile, que resultou na morte de Salvador Allende e na ascensão de Augusto Pinochet ao poder. Exatamente no dia da morte de Allende, a casa de Nancy é atacada por militares. Entre uma montanha de corpos que chegam ao necrotério  e sob a observação constante do exército, Mario procura a sua amada, bem como os familiares da moça.”

Há dois grandes pontos de interesse no filme, sobre os quais dedicarei os próximos parágrafos: uma cena e uma atuação individual.

Apesar de o foco recair sobre Mario, há uma cena magnífica, que automaticamente atrai os holofotes, dada a importância dentro do contexto proposto – o conjunto de acontecimentos do dia 11 de setembro de 1973. Infelizmente não tenho como comentar sobre ela sem dar spoillers, então, se você, caríssimo leitor, for assistir ao filme sugiro que pare sua leitura por aqui para não prejudicar sua experiência. Trata-se da autópsia de Salvador Allende, realizada sob os olhos de dezenas de militares ávidos por direcionar a motivação de sua morte para o suicídio. É uma cena bastante ousada, incômoda, macabra e de difícil digestão, mas que revela a sagacidade de seu diretor ao aproveitar o ápice daquele fatídico dia – a morte de Allende -, inseri-lo no contexto da vida de Mario e o transformar também no ápice de seu filme, mesmo havendo outra cena, o desfecho, que é bastante marcante e “fecha” inteligentemente a linha principal de raciocínio da obra, coadunando, inclusive, com o título. O filme perde seu fôlego em boa parte de sua exibição, por perder muito tempo com pequenos detalhes do cotidiano mais íntimo dos personagens, quanto do lado de fora algo como uma guerra se forma, mas apenas essa cena já faz valer a audiência. Um roteiro não sobrevive apenas em virtude de uma cena de impacto, mas, nesse caso, deve-se abrir uma exceção.

Normalmente, filmes considerados como”filmes de arte” possuem uma narrativa lenta. Além de fazer parte desta categoria de filmes, “Post mortem” é lento por outro motivo. Pode-se afirmar que seu personagem principal é uma pessoa “monótona”, sem sentido para sua vida, alguém que vive no vácuo. Um homem frio e solitário que,  metaforicamente, “herda” algumas características dos portadores da morte – os cadáveres -, com os quais compartilha boa parte de seu dia. No entanto, trata-se de um ser humano, e, portanto, possui sentimentos e desejos, inclusive sexuais. Nota-se prontamente a complexidade do personagem: um “morto-vivo”, cujos comportamento e pretensões dentro da narrativa foram magistralmente absorvidos e interpretados pelo excelente Alfredo Castro. Trata-se de um personagem que nem atrai muito as atenções por parecer “nulo”, mas com uma alma bastante interessante de se observar.

Exibir em um filme uma relação tão íntima com a morte concede um caráter bastante perturbador a qualquer narrativa. Observamos isso em obras que são inseridas nos gêneros de terror, horror, thriller e afins, e, por esse motivo, posso enquadrar perfeitamente o filme em tela como um “pseudo terror”, apesar de não ter o intuito de assustar, todavia, a união do fictício microcosmo de Mario Cornejo com a real conjuntura sangrenta do Chile naquele período transformam “Post Mortem“, guardadas as devidas proporções, em um “clássico” do horror, tanto físico como psicológico, por causar grandes aversão e repulsa. Saliento que a obra não se furta de carregar consigo um viés de necessidade por dramatizar supostas nuances de mais uma tragédia da história da humanidade, para que sua memória nunca seja esquecida e, por conseguinte, os atos praticados em decorrência dela nunca mais sejam repetidos.

O trailer, com legendas em inglês, segue abaixo.

Adriano Zumba.


 

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