O despertar de Motti (2018)

Título original: Wolkenbruchs wunderliche Reise in die Arme einer Schickse

Título em inglês: The awakening of Motti Wolkenbruch

País: Suíça

Duração: 1 h e 34 min

Gêneros: Comédia, drama

Elenco Principal: Joel Basman, Noémie Schmidt, Udo Samel

Diretor: Michael Steiner

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt4766630/


Opinião: “Interesse baixo em um tema costumeiro, mas um bom divertimento.”


O representante suiço na corrida pelo Oscar de Melhor Filme Internacional 2020 lança um questionamento para seu público: até que ponto as religiões em geral – e todas  os costumes e normas que carregam – podem interferir na vida das pessoas, principalmente na conjuntura atual, na qual as pessoas estão sempre modificando seus comportamentos? Através de uma narrativa bastante divertida, o filme aborda temáticas controversas e bastante sensíveis por colocar a liberdade de um jovem em relação à escolha de sua futura esposa, entre outros assuntos, em oposição às tradições – ou leis – que a religião seguida por sua família impõe – no caso em tela, o judaísmo. Considero a temática do “casamento arranjado” e suas implicações algo demasiadamente recorrente no cinema, principalmente para quem assiste ao cinema indiano, porém, há quem considere que nunca é demais provocar reflexões sobre as mensagens que as situações mostradas transmitem, pois é realmente difícil conciliar heranças culturais e religiosas com a realidade do mundo moderno. E deixar fluir pensamentos assistindo a um filme tão leve e engraçado é melhor ainda. Seguem abaixo as minhas impressões sobre o filme em tela.

Eis a sinopse: “O jovem judeu ortodoxo Mordechai Wolkenbruch, chamado Motti, tem um problema sério: todas as mulheres, que sua mãe lhe apresenta como potenciais esposas, se parecem com ela. Enquanto Laura, sua colega de estudo, não faz nada, mas infelizmente ela é uma schikse (não judia): usa calças, tem um bom corpo, bebe gin e tônica e pragueja. Motti começa a ter dúvidas: o caminho predeterminado dado por seus pais é a estrada para ele seguir? Sua obediência aos métodos perturbadores de sua mãe começa a desaparecer, enquanto ao mesmo tempo sua paixão por Laura cresce. Então, as coisas seguem o seu curso. E em breve, Motti chega à conclusão: até mesmo os schiksen podem ser totalmente loucos.”

A grande sacada do diretor é a forte esteriotipação dos personagens, tanto visualmente quanto comportamentalmente. Deve-se destacar prontamente nesse âmbito a mãe de Motti, Judith, a caricatura mais ortodoxa da família. Ela brilha mais do que o protagonista propriamente dito. O exagerado conservadorismo religioso da matriarca dá o tom da narrativa ao longo da maioria de sua exibição e, inserido nesse contexto, está o apagado Motti: o jovem das emoções tolhidas. Nota-se que a escolha do ator para interpretar Motti foi bastante satisfatória: um rapaz sem atributos físicos relevantes para atrair a atenção de potenciais pretendentes à esposa. Seu esteriótipo combina perfeitamente com a timidez e insegurança requerida por seu personagem.

O roteiro pode ser considerado como padrão para a temática abordada, caminhando, como sempre, para o sentido da libertação das amarras religiosas, que é o maior ponto de interesse da narrativa. Em um filme curto, o desenvolvimento dessa libertação transcorre de maneira bastante flúida, sendo desnecessário o alongamento das cenas, pois, da maneira que foram construídas, há um sentido lógico de completude sempre presente. Entretanto, o desfecho não-conclusivo pode desagradar, por instigar a imaginação e não possuir um “final feliz”. Na verdade, o desenvolvimento de uma relação amorosa entre Motti e alguma mulher nunca foi o foco do enredo, mas essa proposta é erroneamente admitida pelo espectador após a visualização dos primeiros minutos de exibição. Trata-se do chamado ledo engano, pois se o filme se resumisse a apenas isso, a experiência proporcionada a seu público seria bem pior. “O despertar de Motti” utiliza subterfúgios para alcançar o seu objetivo e essa é uma estratégia muito pertinente e inteligente, entretanto, considero que a temática principal escolhida não consegue mais atrair a atenção do público, mesmo sendo bem desenvolvida e proporcionando muitos momentos de entretenimento.

Ao fim, o espectador acaba tendo uma jornada pelo menos divertida, mas fica aquela sensação de mais do mesmo. Falta muita originalidade, mas serve, mais uma vez, para mostrar ao mundo através do cinema que a liberdade é garantia fundamental do ser humano. As restrições comportamentais impostas pelas mais variadas religiões acabam trazendo infelicidade e devem ser revistas em nome da perpetuação da crença de seus devotos, afinal as gerações atuais já nascem em outra conjuntura e manter a nostalgia é quase impossível, principalmente por estarmos na era da tecnologia há tanto tempo. Assim como tudo no mundo se moderniza, as religiões também devem seguir no mesmo sentido, pois em algum momento o modelo restritivo adotado perderá sua eficácia.

Vale a experiência, mas o filme em tela está muito longe de prosseguir na disputa do Oscar. Deverá ficar rapidamente pelo caminho.

O trailer segue abaixo.

Obs.: Disponível na Netflix.

Adriano Zumba


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