Comparação: El cuerpo (2012) x The body (2019)

FILME 1

Título em português: O corpo

Título original: El cuerpo

Título em inglês: The body

País: Espanha

Duração: 1 h e 48 min

Gêneros: Mistério, thriller

Elenco Principal: Jose Coronado, Hugo Silva, Belén Rueda

Diretor: Oriol Paulo

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt1937149/


FILME 2

Título original: The body

País: Índia

Duração: 1 h e 41 min

Gêneros: Mistério, thriller

Elenco Principal: Emraan Hashmi, Rishi Kapoor, Sobhita Dhulipala

Diretor: Jeethu Joseph

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt8130904/


IMPORTANTE:spoillers na comparação proposta abaixo.


Obs.: Utilizarei sempre os título originais para me referir aos filmes: “El cuerpo” é o filme espanhol de 2012 e “The body” é o filme indiano de 2019.


Para melhorar a compreensão desta análise, eis abaixo uma tabela com os personagens principais e seus nomes nos respectivos filme.

Personagem Em “El cuerpo” (2012) Em “The body” (2019)
Investigador de polícia Jaime Peña Jairaj Rawal
Rica empresária Mayka Villaverde Maya Verma
Marido da empresária Alex Ulloa Ajay Puri
Amante do marido Carla Miller Ritu

Não é raro vermos refilmagens de filmes de sucesso de outros países no cinema indiano. Nos últimos anos, percebe-se que os produtores da terra dos elefantes “adotaram” o cineasta espanhol Oriol Paulo, o qual considero um prodígio contemporâneo do cinema de suspense, como fornecedor de matéria-prima para suas adaptações cinematográficas. Após refilmarem “Um contratempo” (2016), dando origem a “Badla” (2019), que considero uma adaptação aceitável, mas com algumas ressalvas, sobre a qual publiquei uma análise que pode ser lida clicando-se aqui, o filme escolhido desta vez para ser transposto para “a linguagem indiana de fazer cinema”, que é pitoresca por sua essência, foi “El cuerpo” (2012), mais um filme espetacular de Oriol, entretanto, sobre esse trabalho de adaptação, que resultou em “The body” (2019), tenho críticas ferrenhas, que estão mostradas abaixo. Para isso, resolvi dividir a análise em 3 tópicos para uma melhor inteligibilidade.


AMBIENTAÇÃO

Julgo que a aura criada em um filme de suspense/mistério é um dos elementos essenciais para o sucesso da obra, pois potencializa as sensações e contribui sobremaneira para o desenvolvimento da tensão. Isso inclui cenários, figurino, paleta de cores, trilha sonora e efeitos sonoros, fotografia, etc., isto é, são várias das camadas que compõe uma produção cinematográfica, as quais costumo chamar de aspectos técnicos. No filme espanhol, posso afirmar que a ambientação é perfeita, com cenários obscurecidos na maioria do tempo, elementos característicos bem inseridos, trilha sonora misteriosa, cores “sem vida”, etc. Já no filme indiano, não só nesse tópico, mas também nos demais, resolveu-se realizar uma adaptação utilizando o modus operandi padrão para a maioria dos filmes produzidos para a indústria local, com cores vibrantes, cenários claros, fotografia exibindo belas paisagens quando possível, músicas românticas nas cenas de amor, que, diga-se de passagem, no filme espanhol são mais eróticas – o que coaduna mais com a abordagem proposta, etc. A questão da diferença de ambientação entre os dois filmes salta aos olhos e realmente incomoda. Muitas das características dos recursos adotados por “The body” não encontram guarida pelo tipo da narrativa proposta, pois funcionaram como um “suavizador” da experiência audiovisual para o público.


ELENCO, PERSONAGENS E ATUAÇÕES

Refilmar uma produção tão elogiada e bem avaliada como “El cuerpo” requer excelência – e isso é uma afirmação até óbvia. A escolha do elenco tem papel fundamental para que um projeto como esse alcance êxito, pois quanto mais qualificados forem os artistas, mais atenção aos demais aspectos cinematográficos pode ser dispensada. À exceção do ator que interpreta o investigador Jairaj, que possui uma carreira longa e consolidada no país, mas sem papeis de muito destaque em sua filmografia, os demais artistas de “The body” pertencem ao “segundo pelotão” do cinema indiano e têm pouca representatividade/experiência no contexto cinematográfico local. Falta a “The body” um elenco mais “pesado” para suportar a responsabilidade, assim como foi feito no filme “Badla” (2019), que foi citado mais acima, que contava simplesmente com a lenda Amitabh Bachchan em seu elenco, entre outros. Em “The body“, as atuações dos protagonistas são abaixo da média, no entanto, o intérprete de Ajay tem, de longe, o pior desempenho, por ser muito artificial em seu trabalho e se mostrar ser pouco versátil e verossímil, alternando pouco a sua maneira de atuar, diferentemente do intérprete de Alex em “El cuerpo” e toda a dissimulação exibida em seu personagem. Por sua vez, Jairaj apresenta um tom sarcástico em várias passagens, diferente do sério e centrado Jaime Peña em “El Cuerpo”. Algo que, diga-se de passagem, pode refletir seus objetivos na narrativa e, assim, entregar a surpresa final. Em relação à amante, no meu entender,  as atrizes não comprometem, mas julgo que ambas as produções falharam no desenvolvimento da personagem, pois ela age com emoção nas cenas mais tensas, mesmo quando não está com seu namorado, parecendo estar realmente preocupada. Esse comportamento não coaduna nem um pouco com o papel dela na trama. Por fim, a produção indiana rejuvenesceu e sensualizou a rica empresária, e assim enfraqueceu sobremaneira o desenvolvimento de seu argumento para provocar o interesse do marido por outra mulher. A idade de Mayka no filme espanhol faz toda a diferença por gerar insegurança pelos efeitos do tempo no corpo da protagonista. No meu entender, esse foi um erro crasso.


ROTEIRO

Há diversas semelhanças entre os dois filmes – até alguns diálogos são iguais -, mas há algumas diferenças que realmente incomodam. O papel do vigilante do necrotério é modificado no filme indiano, retirando sua importância e o excluindo da trama, enquanto no filme espanhol, ele é mais um elemento inserido na conjuntura para aumentar o mistério e confundir o público. Outra grande modificação foi em relação ao passado do investigador, que, em “The body“, não é abordado em nenhum momento durante o desenvolvimento do filme – e isso é uma virtude para incrementar o impacto do desfecho -, e a construção do acidente sofrido pela família de Jairaj é absolutamente diferente em relação àquela vista em “El cuerpo“, no intuito de fortalecer o contexto de assassinato, o qual é sempre defendido pelo investigador. A abordagem espanhola deixa margem para que haja mais de uma interpretação e a indiana escancara as portas da objetividade. Nada mais natural, pois o exagero é uma variável sempre presente em produções indianas, entretanto, acredito que, mais uma vez, há um decréscimo na capacidade do filme prover mistério, que é o principal atrativo da narrativa e fez a fama do filme espanhol, pela excelência. No entanto, o grande problema  de “The body” no tocante ao roteiro, como já visto na ambientação, é a abertura de espaço para que o romance tome corpo. Como exemplo, uma das cenas mais importantes do filme, quando o corpo da mulher é encontrado, é exibida ao som de uma música romântica do padrão indiano. Essa cena é burlesca. Há até passagens em que Ajay canta para Ritu, para não fugir do convencional em filmes amorosos de Bollywood, mas o filme não tem o amor em seu cerne. Não é um absurdo que os espectadores que assistiram a “El cuerpo” dêem boas gargalhadas ao se depararem com o puro mel do amor indiano mostrado em “The body“. É simplesmente ridículo!


VEREDITO

Considero o trabalho de refilmar uma obra de sucesso uma tarefa insólita, apesar de haver exemplos exitosos, satisfatórios e aceitáveis ao longo da história. “The body” é apenas mais um fracasso dessa escolha. O cinema indiano possui filmes de suspense/mistério magníficos, produzidos num padrão alto de excelência, mas, desta vez, a necessidade assumida de inserir um contexto romântico ao estilo indiano e alguns defeitos de adaptação fazem toda a diferença ao fazer uma comparação com a obra original. Definitivamente, se o espectador desejar assistir a um dos dois, escolha “El cuerpo” de olhos fechados, pois “The body” nada mais é do que uma refilmagem com inúmeros e graves defeitos de fabricação. Dessa vez, a linha de montagem da indústria chamada Bollywood falhou feio!

Os trailers dos dois filmes seguem abaixo.

Adriano Zumba


O CORPO (2012)


THE BODY (2019)

2 comentários Adicione o seu

  1. Dema disse:

    Sabe da existência de The Vanished (2018) que é também uma regravação de El Corpo, mas Coreana?

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    1. Sim, Dema. Há algumas refilmagens ao redor do mundo. Obrigado pela informação.

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