Cerejeiras em flor (2008)

Título original: Kirschblüten – Hanami

Título em inglês: Cherry Blossoms

País: Alemanha

Duração: 2 h e 07 min

Gêneros: Drama, romance

Elenco Principal: Elmar Wepper, Hannelore Elsner, Aya Irizuki

Diretora: Doris Dörrie

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0910559/


Citação (vista no trailer): “Nunca é tarde demais para realizar um sonho e começar a viver.”


Opinião: “Belo, emocionante e simbólico do início ao fim.”


A velhice, as relações familiares, a efemeridade da vida, a imprevisibilidade da chegada da morte, etc. Estas são temáticas que já foram tão abordadas pela sétima arte, tanto individualmente quanto em uma combinação entre elas, que é imperioso haver criatividade, inteligência e sensibilidade para que uma obra que as desenvolva não se transforme em mais do mesmo e nem se assemelhe muito fortemente a outra pré-existente. Apesar haver uma similaridade entre o filme em tela e “Era uma Vez em Tóquio” (1953), do mestre japonês Yasujiro Ozu, trata-se em uma obra com roteiro bastante original, que foge do convencional através da  inserção de uma série de metáforas e analogias ocultas entre seus elementos constituidores para contar a sua história, isto é, recheada de simbolismos. Além disso, essa estratégia, além de conceder “elegância francesa” e “respeito oriental” ao filme, torna-o bastante artístico e representa um deleite para a alma dos espectadores. É um dos mais belos filmes, tanto em fotografia quanto em sua essência, que os alemães já produziram. Segue abaixo minhas impressões sobre ele.

Eis a sinopse: “Trudi, casada com Rudi, com quem tem três filhos já adultos que moram em outras cidades/países, fica sabendo que seu marido tem pouco tempo de vida. Atordoada com a notícia e guardando para si a notícia, ela resolve viajar com Rudi para visitar 2 de seus filhos que vivem em Berlim e lá ocorrerá algo inesperado que afetará toda a família e terá consequências particulares em Rudi.”

Em “Cerejeiras em flor“, por a narrativa e os elementos que a constituem remeterem fortemente ao Japão; pelo conhecimento das temáticas abordadas e pela simples leitura do título; é inevitável uma automática correlação com o espetáculo, conhecido mundialmente, que a natureza proporciona todos os anos no país, durante a floração das cerejeiras – e a observação da fragilidade com a qual as flores caem das árvores e são levadas pelo vento, isto é, a efemeridade de suas existências. É um belo festival de vida e de morte, que faz parte da cultura japonesa e atrai olhares da mais completa admiração. É bom salientar que a flor de cerejeira é relacionada aos samurais, dada a brevidade das vidas de ambos. Esses aspectos relacionados à existência – e a seu fim iminente – são tão importantes dentro da narrativa que a direção faz questão de reforçá-los em pequenos detalhes, como as cenas das moscas, as quais possuem vidas curtas por natureza, além do mais podem encontrar uma mão humana pela frente para abreviar essa curta passagem por este plano terreno. A inquietude de Trudi com a morte de uma mosca parece ser algo até desconexo mas, após uma rápida análise, tem um sentido absolutamente oportuno. Ainda na seara dos elementos japoneses do enredo, o Monte Fuji tem bastante destaque na gradativa imersão do espectador na cultura japonesa, inclusive com a utilização de um trabalho de xilogravura do mestre japonês Hokusai, “36 vistas do Monte Fuji”, e sua famosa  obra “A Grande Onda de Kanagawa”.

Um segundo aspecto bastante pertinente é a presença de uma dança típica japonesa chamada Butô (ou Butoh), que, segundo a personagem Yu, é a dança das sombras e tem o poder de se comunicar com os mortos. Através de palavras do mestre japonês do Butô, Kazuo Ohno, falecido em 2010 aos 103 anos de idade, pode-se entender melhor a utilização da dança dentro do roteiro: “Os homens vivem com a consciência de que morrerão, no entanto esperam ter uma vida eterna. A eternidade é um dos argumentos principais do Butô. Ela cabe no instante, e esta consciência serve para ultrapassar as barreiras do corpo. A morte é inevitável, não podemos viver sem olhá-la. Não podemos fechar os olhos, mas podemos torná-la alegre“. Nota-se que o Butô funciona como uma analogia sobre a conexão do ser humano com o seu interior e há uma passagem muito representativa sobre tal afirmação dentro do filme na qual um dos filhos do casal – Karl, que mora e trabalha no Japão – traz à tona memórias passadas através da degustação de um alimento preparado por seu pai. Essa cena mostra a essência do Butô, mesmo sem exibi-lo, e se consubstancia em uma simbologia mais do que pertinente dentro da narrativa proposta. Como visto, a “parte japonesa” do filme é bastante representativa para a obra. Diria até que é emblemática.

O terceiro aspecto fortemente abordado no filme é a questão da velhice, considerada individualmente, trazendo consigo as doenças, a nostalgia, a perda, a saudade, etc.; e, também considerando os personagens idosos em suas interações familiares, que, nesse caso concreto, são mostrados como sinônimo de fardo, de incômodo, de problema. Isso lembra muito o roteiro de Ozu no filme ora citado mais acima. É mais uma temática posta à reflexão do público.

Apesar de Rudi ser o personagem principal da história, Trudi, sua esposa, é o personagem-chave, pois ela funciona como elo entre Alemanha e Japão através de seus sonhos e vontades, para que a narrativa implemente esse deslocamento territorial e cultural entre os países; e como guia do fio condutor do enredo, influenciando Rudi em sua transformação íntima, suas ações e em sua breve redescoberta da vida. Por falar em personagens, os três protagonistas, Rudi, Trudi e Yu, têm atuações maravilhosas, com uma sensibilidade e uma entrega da alma comoventes.

Ao fim, abundam mensagens transmitidas, reflexões proporcionadas e contemplação de praticamente uma poesia em movimento. Deve-se ter ciência de que a vida é finita e aproveitá-la considerando a existência da morte e a exaltação de valores humanos fundamentais, principalmente o amor, como o elo entre as pessoas. Tudo isso soa como clichê, mas, a despeito de ser uma produção alemã, que por si só já é excelente por natureza, uma “narrativa japonesa” séria não costuma tratar qualquer temática de maneira melodramática ou forçada, justamente pelo cultivo desses valores citados acima, sobretudo o respeito, que encontra forte guarida na cultura e no comportamento oriental. O tratamento concedido ao luto é dotado de uma sobriedade impressionante. Lembrou-me também o filme ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro “A partida” (2008).

Por tudo o que foi analisado, considero “Cerejeiras em flor” um filme especial. É mais um que vai para minha galeria pessoal de grandes filmes. Só posso encerrar esse texto com três palavras que possuem o mesmo significado: obrigado, namastê, danke!

O trailer segue abaixo, entretanto recomendo que não assistam a ele, pois prejudicará a experiência pela exibição de muitos fatos importantes do enredo, inclusive da maior surpresa que está reservada.

Adriano Zumba


TRAILER

5 comentários Adicione o seu

  1. sissi0000 disse:

    Oi Adriano!
    Como vai?
    Sou recém inscrita no seu blog e estou adorando o acervo. Seus textos também são maravilhosos e captam bem a essência dos filmes. Li alguns, mas já tenho uma lista enorme de filmes pra ver por aqui rsrs
    Gostaria muito de ver esse Cerejeiras em Flor, mas não encontro o botão para assistir. Não está mais disponível?
    Obrigada pela atenção!

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    1. Olá, obrigado pelos elogios e preferência. Um dia, “Cerejeiras em Flor” já esteve disponível no blog para ser assistido online. Acontece que o foco do blog não é fomentar a pirataria, entretanto, pela percepção de que muitos dos filmes que eu e meus colaboradores escrevemos sobre são de difícil acesso, principalmente para quem não sabe baixar da internet, então, passei a colocar alguns deles no Google Drive (e recebo muitos alertas repressivos da plataforma por isso), que me oferece muito pouco espaço para isso. Mas já que você, minha amiga, interessou-se tanto pelo filme, que é maravilhoso, diga-se de passagem, vou disponibilizá-lo e lhe aviso por aqui, ok?
      Abraço.

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      1. sissi0000 disse:

        Poxa, obrigada Adriano!
        E concordo com você totalmente. Eu assino vários serviços de streaming como Mubi, Belas Artes a la carte, filme filme, filmicca… enfim, tento fazer a minha parte, mas, como você disse, por aqui tem filmes que não encontro nesses serviços e que são verdadeiras pérolas.
        Obrigada por disponibilizar o filme novamente!
        Estarei aguardando 🥰📽

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      2. Já está lá disponibilizado. Acabei de upar no drive às 10:45. Em cerca de 30 minutos, o drive deve liberar o acesso.
        Boa experiência com esse magnífico filme. Se puder, deixe suas impressões aqui nos comentários.
        Abraço.

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      3. sissi0000 disse:

        Ahhh obrigada Adriano!
        Com certeza assistirei até o fim dessa semana e deixarei aqui minhas impressões.
        Obrigada mais uma vez 🥰♥️

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