You will die at twenty (2020)

Países: Sudão, França, Egito, Alemanha, Noruega, Catar

Duração: 1 h e 43 min

Gênero: Drama

Elenco Principal: Islam Mubarak, Mustafa Shehata, Moatasem Rashed

Diretor: Amjad Abu Alala

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt9686154/


Citação: “Eu uso branco para lamentar meu filho morto. Você usa preto para lamentar seu filho vivo.”


Opinião: “O levante contra uma vida desgraçada pela religião.”


O Sudão oficialmente República do Sudão, é um país africano, limitado ao norte pelo Egito, Mar Vermelho, Arábia Saudita, Eritreia, Etiópia, Sudão do Sul, República Centro-Africana, Chade e Líbia. O Rio Nilo divide o país em duas metades: a oriental e a ocidental. Sua religião predominante é o Islamismo. Quase um quinto da população do Sudão vive abaixo da linha internacional de pobreza. Até 2011, o Sudão era o maior país da África e do chamado “mundo árabe”, quando o Sudão do Sul se separou e se tornou um país independente. O Sudão é hoje o terceiro maior país da África (após a Argélia e a República Democrática do Congo) e também o terceiro maior país do mundo árabe (depois da Argélia e Arábia Saudita) com população de mais de 39 milhões de habitantes.

Desse país vem o representante ao Oscar 2021, que apresenta o protagonista Muzamil – mesmo nome de um profeta, esperando, assim, que seja aceito como uma oferenda ao representante do islã.  O garoto recém-nascido é levado a uma espécie de cerimônia com o líder espiritual (se assim pudermos nomear) e é dito para seus progenitores que o garoto viverá até os 20 anos de idade. Em choque com a revelação do sheikh, a mãe desolada volta para casa com o rebento nos braços. O pai, omisso e medroso, sai em busca de trabalho, eximindo-se de toda e qualquer responsabilidade, abandonando não só a família, mas principalmente o fardo da dita profecia.

Muzamil lembra um pouco o personagem Ahlo do filme “O foguete” (2013), pois ambos são obrigados a viver uma vida permeada por má sorte, mau agouro e o peso da morte rondando tudo e todos ao seu redor, principalmente ele próprio que é sempre escanteado do convívio social.  O rechaço de uma sociedade totalmente fechada, arraigada nos ensinamentos do Corão, bastante preconceituosa com o desconhecido, ou, nesse caso, com o revelado, afinal Muzamil viverá somente até seus 20 anos.

Muzamil, após o abandono paterno, é criado pela mãe, que embora lhe dê amor e cuidados, nunca esquece as palavras ditas na cerimônia. É uma mulher que vive uma vida amarga, entristecida, sofrida e também com o peso da morte rondando toda a sua vida. É uma mulher que vive o luto diário, em vida e ininterrupto, mesmo tendo a seu lado o filho vivo, bondoso, amoroso e “obediente”. Tudo na vida de Muzamil é permeado pelo fim de sua vida. Os medos do menino/adolescente são alimentados a cada experiência NÃO VIVIDA. Muzamil tem medo da água, da vida, dos pecados, da morte, da ausência, do amor, da paixão de criança. É uma sombra humana vagando pela aldeia em ruínas.

Aprende a recitar o Alcorão como uma forma de prestação de serviços à Mesquita (enquanto ainda vive). Trabalha como ajudante na mercearia. Dorme com a mãe. É um ciclo que se repete ano após ano, assim como as correspondências de um pai que ele desconhece. E assim Muzamil não pode e não se permite viver. Tudo em si o lembra da morte com data marcada para vir o recolher. Não se banha no Nilo porque a água o aflige, não se declara à paixão infantil porque não tem o que oferecer, perde sua amada para o rival, não tem diálogo com o pai, sente a angústia da mãe. Em resumo, não vive!

Muzamil encontra um pequeno alento em sua vida “amaldiçoada” ao entregar bebidas contrabandeadas a um forasteiro recém-chegado na aldeia. A relação apenas profissional se torna mais próxima a cada entrega realizada. Eles conversam sobre o mundo, o cinema, a literatura, o amor e a poesia, o peso infundado da religião, etc. Tudo é conversado sem reservas. Um novo mundo se abre para aquele que “pede perdão diário por pecados que nunca cometeu”. É um renascimento para si, para a vida pulsando, para o mundo fora dos limites da fé cega ou da aridez da vila. Muzamil, movido por uma sede desesperada de uma vida que ele não conhece, entrega-se ao enfrentamento dos medos e de tudo que representa o pecado. É um despertar, embora que tardio. É um respiro de vida como aquele do nascimento. É a única oportunidade em vida de viver. É o grito de libertação!

You will die at twenty” é um filme de uma beleza única, uma beleza que se apresenta aos olhos do espectador em várias camadas, e, talvez, a mais significativa delas é o despertar do personagem “de dentro para fora”, é o entendimento daquilo que verdadeiramente somos, mesmo que, em muitos momentos ser quem somos é simplesmente tirado de nós. A beleza de limpar a vidraça do nosso próprio olhar para nós mesmos, para o outro (e tudo que nos amedronta) e para o mundo além de fronteiras meramente espaciais. É a beleza de sentir o pulsar da vida em nós.

Outro ponto que destaco é a beleza estética da produção mesmo com os recursos muito escassos. O aproveitamento quase que em sua totalidade da luz natural da locação traz uma luminosidade absurda para a narrativa, deixando ainda mais “limpa e clara” a história de Muzamil. Os figurinos quase sempre brancos, representando, entre outras coisas, a pureza desse personagem que mesmo sofrendo preconceito e exclusão não se deixou perder na escuridão humana.

Super Indico.

O trailer, com legendas em inglês, segue abaixo.

Pela colaboradora Fernanda Borges Freire.

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