O bom patrão (2021)

4.5 estrelas

Título original: El buen patrón

Título em inglês: The good boss

País: Espanha

Duração: 2 h e 00 min

Gênero: Comédia

Elenco principal: Javier Bardem, Almudena Amor, Manolo Solo, Óscar de la Fuente

Diretor: Fernando León de Aranoa

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt13066182/


Citações:

  • “Uau, um policial socialista.”
  • “…quero estar com meus empregados, cuidar de todos eles, porque eles são minha família, sabe?”
  • “Patrão, você sempre diz que nossos problemas são também seus problemas, e que se algo nos afeta…”

Opinião: “Poderosa crítica em forma de sátira.”


Sinopse: “O proprietário de uma fábrica de balanças, Julio Blanco, no intuito de ganhar uma premiação de excelência empresarial do governo regional, começa a se meter na vida particular de seus empregados.”


Na minha opinião, a faceta mais interessante do cinema é a capacidade que sua linguagem possui de fazer alusão a temas pertinentes da sociedade das mais diversas formas e utilizando as mais diversas abordagens. Uma das que mais me agrada é, sem sombra de dúvidas, a implementação da sátira, quando temáticas e personagens são hiperbolizados rumo ao absurdo em nome da crítica. No filme em tela, a “benevolência” do capitalismo em relação ao elo mais fraco das relações de trabalho, os empregados, personificada no protagonista, Blanco, é fortemente criticada de uma forma muito divertida, transmitindo magistralmente e de forma muito leve as mensagens a que se propõe. O protagonista é interpretado por Javier Bardem, um ator que dispensa comentários dada a sua grandeza no mundo cinematográfico e a excelência com a qual interpreta seus personagens. O pertinente a se considerar neste momento é dar uma olhada em sua filmografia e perceber que ele já atuou em outras obras de cunho social, como o magnífico “Segunda-feira ao sol” (2001), entre outras. Como informação, “O bom patrão” recebeu mais de 20 indicações ao Goya 2022, o Oscar do cinema espanhol – um recorde na história da premiação.

No filme, Blanco é dono da fábrica chamada Balanças Blanco, que está entre as 3 empresas candidatas a receber uma importante premiação do governo. Notem que, na narrativa, o capitalismo citado mais acima não é caracterizado diretamente – por meio do dinheiro ou do lucro -, e sim indiretamente, pelo esforço dispensado em nome da obtenção de um prêmio, que, presumidamente, elevará o patamar da empresa, permitindo que ela tenha ganhos financeiros maiores em decorrência disso. É uma boa abordagem para mostrar que a ganância do capitalismo é ampla e alcança até os pormenores, por motivos maiores e ocultos. No entanto, o afã mostrado no filme também denota uma certa vaidade do protagonista, que adentra na seara do egoísmo, do egocentrismo, da manipulação, que são características que também podem ser atribuídas ao capitalismo.

O filme se propõe a mostrar o lobo em pele de cordeiro, que ultrapassa limites invisíveis de sua competência em nome de seus objetivos, e, para isso, utiliza-se de armas que ferem o ético, o moral e inclusive o legal. A bondade do patrão, que intitula o filme, é representada através de ações explícitas de Blanco e de suas belas palavras que afagam os seus empregados de várias formas, expondo uma realidade, que, na verdade, deve se adequar aos objetivos do mandatário e não dos mandados, apesar de aparentemente ser vista de outra forma. E tudo isso é representado através da interação próxima – ou íntima – de Blanco principalmente com 3 de seus empregados: José, recém demitido da empresa; Liliana, a nova estagiária e filha de um grande amigo de Blanco; e Miralles, amigo de longa data do mandatário. As relações com Khaled, Inés, Fortuna e Román também não devem ser desprezadas, mas são trabalhadas em menor grau na obra, apesar de serem importantes para o entendimento global do enredo e terem graus de influência variados para o resultado final.

José, que acampa em frente a fábrica após sua demissão e inferniza com seu megafone, e Miralles, que passa por problemas conjugais, representam a “descartabilidade” da classe proletária quando não atende mais aos propósitos da empresa, mesmo havendo razões e/ou atenuantes humanos para haver uma remissão “dos pecados”, ao passo que Liliana representa a dissimulação das relações de trabalho, caracterizando a escusabilidade dos atos – de ambos os lados. A atuação de Blanco juntamente a esses 3 personagens promovem a maioria das subtramas principais do filme, promovendo situações inusitadas e diversos problemas para o manipulador protagonista tentar resolver, o que diverte bastante pela proposta do filme, a despeito de existir, lá no âmago de cada espectador, um quê de angústia pulsando incessantemente.

O desfecho é bastante interessante, pois imita a vida real, onde todos sabem quem normalmente sai vencedor no embate histórico entre as classes, entretanto, há aqueles “vulneráveis” na relação de trabalho que também acabam vencendo, mas, segundo o filme, não por competência, e sim pela utilização das mesmas armas referenciadas no terceiro parágrafo – e até mais sórdidas. Resumidamente, o filme exalta maus valores, mas a sátira funciona dessa maneira, exaltando-se o que há de pior para promover reflexões. Desse modo, “O bom patrão” cumpre perfeitamente a sua missão, mesmo com alguns altos e baixos em sua exibição. Trata-se de um filme com uma atuação monstro de Bardem, um roteiro bastante oportuno e uma abordagem muito especial, que critica ao passo que diverte e proporciona uma ótima jornada ao espectador. É um dos destaques do Oscar de Melhor Filme Internacional 2022, onde já é semifinalista. Recomendo a todos.

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba


TRAILER

5 comentários Adicione o seu

  1. A legenda não veio com o arquivo. Ela foi postada?

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    1. Fernando, o filme já se encontra com a legenda embutida.

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