Título original: When my love blooms
País: Coreia do Sul
Duração: 16 capítulos de 60 minutos
Gêneros: Drama, romance
Elenco principal: Jinyoung Park, Lee Bo-young, Yoo Ji-tae
Diretor: Kim Tae Yeop
IMDB: https://www.imdb.com/title/tt12358696/
Sinopse: A trama conta a história do casal Han Jae-Hyun e Yoon Ji-Soo que se conheceram na universidade durante um protesto estudantil, apaixonam-se e viveram uma história de amor que se funde com suas famílias e carreiras. Após muitos encontros e desencontros, eles se distanciam. A vida, então, faz com que eles se reencontrem cerca de 20 anos depois, mas nada é mais como foi no passado.
Desde “Chocolate” (2019), o dorama responsável por me colocar nessa roda gigante de produções maravilhosas da Coreia, embora com muita coisa boa depois, como o tocante “Navillera” (2021), não tinha surgido algo que estivesse à altura para ocupar o segundo lugar no pódio de minha preferência, mas agora ele apareceu.
A TRAMA
Desde o primeiro capítulo , a narrativa é envolvente, interessante, adulta e cativante. É contada quase que na totalidade em flashbacks, com um primoroso trabalho de roteiro para esmiuçar exatamente quem são os protagonistas Han e Ji-Soo, as agruras que estão refletidas espinhosamente em suas vidas adultas, como a vida os deixou solitários, e o mais intrigante: como o amor desabrochou e como terminou para essas duas almas que facilmente podemos classificar de gêmeas. Ressalto que não é piegas, não é infantil, nem frágil a relação, pelo contrário, a paixão está presente o tempo todo, em cada gesto, em cada atitude, em cada ato que os fazem tomar decisões de adolescentes quando viveram essa fase, e agora, como adultos, com toda bagagem acumulada e que exigem deles muito mais do que simplesmente coragem para enfrentar cada novo desafio. E o melhor: a cada capítulo o ritmo se mantém, e aí…
Haja coração!
OS PERSONAGENS
Os protagonistas, acredito eu, foram escolhidos a dedo. A química do casal em cena é intensa e nos convida a vibrar por cada emoção que vão experimentar nessa nova fase. Han é um homem como poucos: advogado de formação, de uma inteligência fora do comum, é a resiliência encarnada, frio como gelo nos negócios, hábil estrategista e negociador nato. Ao reencontrar Ji-Soo ,afloram outras facetas que remetem à adolescência: é amoroso, protetor, acolhedor, observador, e cuidador.
Ji-Soo é uma pianista, que apesar de carregar um amargor indizível por tantas perdas que sofreu, nunca se distanciou de seu fortíssimo senso de justiça, de caráter ilibado e incorruptível, de uma doçura e delicadeza que se confunde com uma passividade extrema e que muitas vezes incomoda. É mãe solo amorosa e responsável, mulher divorciada e quase no nível da pobreza para os padrões sociais locais. É uma mulher extremamente simples, humilde, valorosa e muito sábia.
Esse casal é rodeado por anjos e demônios. A turma do bem são os colegas inseparáveis dos tempos da faculdade, que independentemente de suas carreiras, estão sempre juntos: seja para beber soju, chorar suas dores, apoiarem-se, discutirem ou falarem as verdades na cara do outro (traço social muito comum por lá). Quem tem esse círculo de pessoas por perto vai rapidamente se identificar com essa turma. E o secretário particular de Han, que é o faz-tudo mais gentil e eficiente dos últimos tempos.
A turma do mal é da pesada: sogro e esposa de Han, pai e ex-marido de Ji-Soo e todas as artimanhas que esses malvadinhos vão lançar mão para prejudicar o casal.
Outro traço social aqui é a verbalização de tudo: problemas, dificuldades, armações, tramóias, planos, tudo que todos sentem, ouvem e falam é elucidado rapidamente e nada escapa de ser resolvido. Aqui é interessante que todos os personagens têm essa característica muito forte e isso reflete na agilidade da trama e no fato de as maldades aparecerem logo.
AS DUAS FASES SIMULTÂNEAS
A narrativa optou por contar as duas histórias do “casal que floresce” em paralelo. Haverá longos flashbacks, principalmente para apresentar, justificar ou reviver uma memória do passado que são cruciais para o momento atual. Em várias circunstâncias, questionamo-nos tentando imaginar como Han e Ji-Soo chegaram naquele impasse que estão e logo tudo é revelado e exposto, estabelecendo um ritmo linear e coeso para esses protagonistas. Ressalto que os dois casais (enquanto jovens e enquanto adultos) habilmente escalados para os papeis conseguem transmitir a emoção necessária para cada passagem. Tem espectador que se sentiu incomodado e criticou a produção como lenta. Nesse ponto, discordo. A sensação de lentidão do flashback é justificável e coerente para o resultado final.
O RESGATE DA ESSÊNCIA
Para além dos elementos que comentei, o dorso da narrativa é abordar o resgate da nossa essência, de quem somos verdadeiramente, de tudo que desejamos na juventude e que facilmente pode ser corrompida ou desviada pelas adversidades que encontramos no caminho. Esse é um dos elementos mais expressivos desse dorama, o fato de os protagonistas passarem por uma profunda ressignificação de tudo que foram, são e serão.
FOTOGRAFIA, DIREÇÃO, FIGURINO, TRILHA SONORA
A estética dos doramas são sempre esplendorosas e este em tela não foge desta característica, principalmente porque uma parte da trama está centrada na alta sociedade coreana. Tudo é impecavelmente cuidado, cada detalhe, cada tomada de cena, cada posicionamento de câmera, justamente com objetivo de enaltecer essa ostentação que faz parte do país e da cultura (pelo menos na ficção). A trilha sonora é extremamente discreta, em congruência com seus protagonistas, mas não se compara a músicas marcantes como ocorre em “Chocolate” (2019) e em “Uma noite de Primavera” (2019), por exemplo.
O QUE AMOR É ESSE QUE FLORESCE?
O amor intenso de um casal que tem verdade na relação, que viveram uma história e que se apaixonam novamente como se o tempo não tivesse passado.
Um amor onde os dois são sempre chamados às suas responsabilidades individuais, sejam de suas vidas ou de suas famílias: pais, filhos, cônjuges, etc., e não conseguem se desconectar mesmo quando estão em posições antagônicas.
Um amor que enfrenta tudo, mesmo de modo totalmente distinto. Han está determinado a reaver tudo o que foi tirado dele, e Ji-Soo, tudo o que foi cobrado dela. Uma mulher aparentemente frágil, devastada, humilhada e muito maltratada pela vida se transforma em leoa para defender o que lhe pertence por direito ou quem lhe é caro por um sentimento mais forte do que ela própria.
Um amor que se fortalece com o entendimento de cada um que conhece a história do casal e se rende ao amor deles, que erra e acerta, que ajuda ou prejudica e que sabe que perdeu a batalha, entregando as armas e seguindo adiante (outra característica comportamental que vimos em outras produções).
POR QUE INVESTIR TEMPO AQUI?
“Quando meu amor floresce” é um dorama para gente grande, uma história carregada de maturidade, de verdade, de identificação, de sofrimento e um desejo latente e urgente de ser feliz! A felicidade idealizada, sonhada, vivenciada e realizável quando os dois juntos entendem que são infinitamente mais fortalecidos para driblar os novos desafios.
O posicionamento de cada personagem é sempre muito claro. Particularmente, aprecio histórias que aplicam punição aos culpados, que trazem os erros à tona e utilizam isso justamente para que o personagem cresça e se transforme de alguma maneira. Aqui há a potencialização da “vergonha social” por má conduta ética e moral, que contribui sobremaneira para essa virada do personagem. Os diálogos e o modus de resolver as questões quando a batalha está definitivamente perdida é digna, elegante e de certa forma, nobre. Percebe-se claramente isso nos fechamentos de arcos dos malvados.
“Quando meu amor floresce” é daquele tipo de dorama que ecoará por muito tempo em nossa memória, será guardado no potinho dos nossos favoritos e certamente será revisitado com frequência.
Super Indico.
O trailer com legendas em inglês segue abaixo.
Obs.: Disponível na plataforma Netflix.
Fernanda Borges Freire
TRAILER
Cineminha Zumbacana 