107 mothers (2021)

Título original: Cenzorka

Países: Eslováquia, República Tcheca, Ucrânia

Duração: 1 h e 33 min

Gênero: Drama

Elenco Principal: Maryna Klimova, Iryna Kiryazeva, Lyubov Vasylyna

Diretor: Péter Kerekes

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt15119676/


Citações:

  • “Eu realmente desejo a elas um destino melhor do que o meu.”
  • “Procure algo mais feminino.”
  • “Mas não vou dizer isso no tribunal.”
  • “Você sonha com seu crime?”
  • “Você quer dar à luz em um hospital, mas você sabe quanto tempo leva?”
  • “Ser mãe também é um trabalho.”
  • “Cem por cento de certeza! Porque eles sempre liberam as mães.”
  • “Vou enterrar um pedaço de papel no cemitério?”
  • “Ele pode ser meu neto, mas primeiramente é seu filho.”
  • “Eu garantirei que ele nunca se lembre de você.”
  • “O garoto está preso aqui e para quê?”

Sinopse: A grávida Lesya matou seu marido infiel e ficou atrás das grades por sete anos. Agora ela está criando seu filho na prisão feminina de Odessa – junto com outras mães na mesma situação. Eles são guardados por Irina, que busca consolo para sua solidão censurando as cartas das prisioneiras. Todas as mulheres nesta prisão estão ligadas por um desejo de amor.


A MATERNIDADE ATRÁS DAS GRADES.


O diretor eslovaco Péter Kerekes mistura documentário e ficção ao mostrar um drama filmado na prisão feminina de Odessa e baseado nas histórias das prisioneiras. A história emocionalmente comovente é especialmente significativa para espectadores que deram o passo para a maternidade (ou paternidade), mas “107 mothers” é entretenimento universal o suficiente para todos os gostos. Em primeiro lugar, é uma rara oportunidade de olhar para um mundo em que o cidadão comum não pensa realmente e que é difícil até de imaginar. Seu respeito pela história que conta, seu cuidado com o desenvolvimento, não contempla o ineditismo, mas suas escolhas são tão acertadas que o espectador devolve admiração pela obra. Trata-se de uma narrativa muito seca sobre a vida de condenadas pelo Estado, incluindo a maternidade, conduzida através de eventos muitas vezes com caráter semi-documental.

A submissão da Eslováquia ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2022 compartilha corajosamente as histórias de mulheres presas, que se resumem a “assassinatos passionais”. Até o humor se baseia no fato de que certas coisas são permitidas para mulheres e não para homens, então fiquei interessado em saber como esses alívios cômicos chegariam a um público mais amplo.

– “Por que você está na prisão?”

– “Por ciúmes.”

– “Entendo perfeitamente”.

Provavelmente, o públicou achou engraçado ou no mínimo pitoresco, mas, e se os homens dissessem isso na mesma situação? O tom que eleva as mulheres desaparece rapidamente, e Kerekes fica apenas com uma função biológica que assume tudo e parece ser o único propósito na vida dessas mulheres.

Irina, a guarda da prisão, é como uma espectadora que observa essas mulheres durante a gravidez, o parto, as cartas pessoais e a educação. As crianças só podem ficar na prisão por três anos, depois têm que ir para uma família ou para um orfanato, e a solitária Irina claramente sente falta da vida social. Ela não é um prisioneira, mas estão todos atrás das grades. Ela anseia por um filho e por algum tipo de objetivo maior, que segundo essa história é o amor. O mesmo amor que enviou todas aquelas outras mulheres para trás das grades.

Tendo como pano de fundo a maternidade e os lindos bebês, existe uma rotina diária que inclui também a escola e o treino para conversar com o juiz do caso de cada uma. As verdadeiras vítimas desta história são as crianças, que nascem em parte na prisão devido a más circunstâncias e em parte como forma de as mães obterem melhores condições e penas mais leves. As lágrimas das crianças e o afastamento das mães ferem profundamente. É interessante ver que um filme em tons quentes e enquadrado com sensibilidade, basicamente inteiramente sobre o mundo feminino, foi feito por um homem. O ritmo consistentemente cativante mantém o que está acontecendo na tela sempre interessante e o tempo passa rapidamente.

O que mais me cativou foi a narração sincera das mulheres sobre sua própria jornada até a prisão, gerando altas doses de empatia. Mesmo que o resultado seja sempre o assassinato, essas justificativas, tristezas, reconciliações e arrependimentos parecem gãos de areia escondidos no meio de outros acontecimentos, mas concedem muita humanidade à obra. Também preciso elogiar a decisão de Péter Kerekes de acariciar gentilmente o público através de processos femininos naturais, como o parto, a extração do leite materno e a frustração de lidar com uma criança. Essas cenas foram um pouco mais longas do que esperávamos e o foco ficou mais nítido do que estamos acostumados. De qualquer forma, é bom sair da zona de conforto e curtir cinema com uma boa ideia, e “107 mothers” possui uma e a desenvolve frontalizando todas as suas situações decorrentes dela, ou seja, isso é visto com franqueza. Bom cinema!

Obs.: O título original, Cenzorka, que, traduzindo, significa “censura” advem de uma das tarefas de Irina na prisão, quando recebe as cartas enviadas às detentas e literalmente censura o que elas não podem ter acesso.

O trailer com legendas em inglês segue abaixo.

Adriano Zumba


TRAILER

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