Mulheres divinas (2017)

Título original: Die göttliche Ordnung

Título em inglês: The divine order

País: Suiça

Duração: 1 h e 36 min

Gêneros: Comédia, drama

Diretor: Petra Volpe

IMDB: www.imdb.com/title/tt5818818/


Ao passo que nosso planeta gira, as coisas mudam, a realidade de outrora já não é mais a mesma, os pensamentos se refinam, as pessoas alteram seus comportamentos e seus pontos de vista sobre os mais diversos assuntos. Entre as décadas de 60 e 70 do século XX, houve o que foi chamado de revolução sexual, que atingiu principalmente as mulheres. Nota-se que as mudanças em relação ao chamado sexo frágil não ficaram apenas na seara da sexualidade. Foi algo muito mais abrangente: direitos sociais e legais foram concedidos e foi obtido, aos poucos,  um espaço maior na sociedade, com muita luta e perseverança. Hoje, cerca de 50 anos depois, apesar de ainda haver processos discriminatórios em determinados aspectos, as mulheres andam praticamente em pé de igualdade com os homens. É nesse contexto de mudanças de meio século atrás que se passa o filme. O problema é que as personagens diretamente envolvidas não estavam no “olho do furacão”, não estavam no Festival de Woodstock – ápice da revolução -, e sim em um vilarejo no interior da Suíça, onde as novidades demoravam a chegar e as cabeças dos habitantes eram tão resistentes a quaisquer mudanças quanto o ferro – o interessante é que a resistência não partia apenas dos homens, mas das mulheres também.

No contexto comentado acima, o filme mostra a história de luta de mulheres guerreiras – ou divinas -, para a obtenção do direito a voto na Suíça, em mais um dos muitos referendos sobre o assunto que já tinham acontecido no país. Em meio a uma micro-sociedade retrógrada e baseada em comportamentos pré-estabelecidos de sua população através de normas legais – como a lei do casamento da Suíça -, leis divinas e doutrinas de costumes, na qual a mulher era vista apenas como objeto sexual e dona de casa, conhecemos um grupo de mulheres capitaneadas por Nora, uma “mulher-padrão” daquela época que ecoou a primeira nota do canto de liberdade das mulheres de seu vilarejo, semeou a desordem e colaborou com a campanha nacional pelo voto feminino.

O filme começa de uma maneira que aprecio bastante: mostrando cenas reais da época para introduzir o assunto central da narrativa. Essa mistura de realidade e ficção transfere um sentido de veracidade à ficção e um certo despojamento à realidade. Em tempo, o assunto central aludido anteriormente é a obtenção do voto feminino via referendo, porém, a narrativa, em diversos momentos, preocupa-se em ampliar a abrangência da luta das mulheres, deixando até o foco principal em segundo plano. Esse viés de amplitude potencializa a carga dramática embutida na história, pois adiciona conflitos ainda maiores entre os sexos e proporciona bastantes cenas engraçadas, que entram até na intimidade das mulheres e dos casais de personagens do filme – a cena dos tipos de vulva é inesquecível, hilária, constrangedora, reveladora, em suma, é uma cena “multi-adjetivável”.

Um ponto interessante do roteiro é a invocação das “leis de Deus”, ou seja, as palavras da Bíblia, para justificar os padrões de comportamento, tanto de homens quanto de mulheres. O título do filme em inglês – “the divine order” – possui um nexo maior com o exposto no filme, apesar do título em português também ter uma boa relevância. Essa era uma justificativa sempre à prova de questionamentos e utilizada de maneira hábil, principalmente pelos homens.

O filme deixa algumas lições: por mais difíceis que sejam os anseios das pessoas, há sempre a possibilidade de alcançá-los; por mais diferentes ou heterogêneas que sejam as pessoas, elas podem se unir em torno de um objetivo comum, afinal, a união faz a força; e, finalmente, todos somos filhos de Deus, portanto, independentemente do sexo, somos iguais e devemos ter os mesmos direitos e deveres.

O cinema é um dos meios de comunicação mais poderosos para mostrar a realidade e as transformações pelas quais o mundo vem passando ao longo do tempo. Em relação à temática em tela – a revolução feminina -, o movimento cinematográfico francês chamado Nouvelle Vague o abordou de diversas formas, mas, como a linguagem cinematográfica é bastante especial e diversificada, há uma fonte inesgotável de maneiras para abordar o mesmo tema. Esse filme suíço é mais uma delas –  e foi uma maneira bastante cativante. “Mulheres divinas” proporciona uma boa diversão para todos. Aprovo, aplaudo e recomendo.

O trailer, com legendas em português, segue abaixo.

Adriano Zumba


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