O jardineiro fiel (2005)

Título original: The constant gardener

Países: Reino Unido, Alemanha, Estados Unidos, China, Quênia

Duração: 2 h e 09 min

Gêneros: Drama, mistério, romance, thriller

Elenco Principal: Ralph Fiennes, Rachel Weisz, Hubert Koundé

Diretor: Fernando Meirelles

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0387131/


Opinião: “Um fiel exemplo da perversidade de um mundo capitalista.”


Frase: “$50 mil nas mãos certas e testa-se até ácido de bateria em hidratante.”


Bioética é o estudo dos problemas e implicações morais despertados por pesquisas científicas em biologia e medicina. A bioética abrange questões como a utilização de seres vivos em experimentos, a legitimidade moral do aborto ou da eutanásia, as implicações profundas da pesquisa e da prática no campo da genética, etc. Deve-se guardar esse conceito, pois a bioética, um assunto que por si só já é bastante controverso, por envolver interesses dos mais diversos, é a temática principal do filme em tela. É um assunto que fomenta grande discussão no ambiente real e, como não poderia ser diferente, proporciona o mesmo no ambiente ficcional de “O jardineiro fiel“, cuja obra literária da qual foi adaptado – o romance de mesmo nome do escritor inglês John le Carré -, foi vagamente baseada num caso ocorrido na Nigéria, ou seja, o filme aproxima seus espectadores de situações, as quais transmitem a forte sensação que realmente tomam corpo no mundo atual, contaminado por um capitalismo nocivo e selvagem que passa por cima de tudo em nome de benefícios financeiros. Supõe-se, pela narrativa apresentada, que a aplicação da ética – ou qualquer outra variante do conceito – esbarra em uma série de obstáculos invisíveis: a ganância, o poder, a corrupção, etc. Trata-se realmente de um enredo deveras polêmico.

Eis a sinopse: “O reservado diplomata britânico Justin Quayle se muda para o Quênia com sua adorável jovem esposa Tessa, uma ativista por causas social. Tessa é encontrada morta e Justin, mesmo enlutado, prepara-se para descobrir a verdade por trás do ocorrido e, durante o processo, descobre algumas revelações perturbadoras referentes a uma rede de corrupção internacional envolvida com a indústria farmacêutica.”

Em um roteiro não-linear, que vai e volta o tempo todo na linha do tempo, percebe-se que ele obtém uma boa regularidade na tarefa de manter a atenção do espectador sempre em alto nível. Paralelamente ao desdobramento do argumento principal da narrativa, que se mantém praticamente por toda a exibição, o filme se subdivide em dois momentos distintos: no primeiro, contempla-se uma tragédia “belissimamente fotografada” e um amor harmonioso e duvidoso na mesma proporção, por supostos indícios de infidelidade por parte de Tessa; e no segundo, constrói-se uma investigação que percorrerá várias partes do mundo em busca de respostas. Nota-se que todos os elementos extras inseridos no roteiro possuem o condão de atrair olhares para eles: amor, tragédia, traição, mistério, etc. Definitivamente, a bioética não é o único ponto de interesse de “O jardineiro fiel“. Manter a harmonia entre tudo isso, sem perder o foco na temática principal, foi o mérito maior do realizador brasileiro.

Na narrativa, não há discussões mais aprofundadas sobre a bioética em si, e sim a exibição de um caso que fere os seus princípios. No meu entender, essa constatação empobreceu – sem prejudicar – o roteiro, pois havia espaço para isto, principalmente na interação entre o protagonista e os personagens engravatados que representavam os laboratórios farmacêuticos e o governo inglês. Ademais, principalmente na segunda metade do filme, a fragmentação das cenas entre diversas cidades e a grande quantidade de personagens passam a protagonizar o filme, pois há de se imaginar que existem muitos envolvidos para que um esquema de corrupção internacional funcione corretamente, atrapalham um pouco o entendimento e impõem atenção redobrada ao espectador.

A cada dia que passa, percebemos, através de exemplos que podem ser vistos nos mais diversos lugares do mundo, que o bem-estar, a subsistência, a vida das pessoas, são cada vez mais relegados a um plano inferior – até mesmo pelo Estado. O maior exemplo disso é a quantidade de seres humanos que passam fome no mundo, que, segundo dados atualizados da ONU, são 870 milhões, isto é, 12,5% da população mundial. A maioria da história ser passada na África é algo bem sugestivo, já que trata-se do continente mais assolado pelo problema. Cada vez mais, o poder provido pelo capital suplanta qualquer causa social. Onde iremos parar com essa ganância desenfreada é difícil de prever. O certo é que narrativas como a do filme em tela ligam o sinal de alerta para que possamos refletir sobre a conjuntura atual da humanidade. A vida de uma pessoa é o maior bem que ela pode possuir e não há dinheiro no mundo que pague por ela. Cifrões não podem substituir almas.

Como uma ficção, esse filme é mais fiel do que imaginamos.

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba


1 comentário Adicione o seu

Deixe um comentário

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.