Terra e liberdade (1995)

Título em inglês: Land and freedom

Países: Reino Unido, Espanha, Alemanha, Itália, França

Duração: 1 h e 49 min

Gêneros: Drama, guerra

Diretor: Ken Loach

Elenco Principal: Ian Hart, Rosana Pastor, Icíar Bollaín

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt0114671/


Citação: “A Revolução é como uma vaca que vai dar cria, se nós não ajudamos imediatamente, perderemos a vaca, o bezerro e as crianças ficarão famintas.”


Opinião: “Visão metafórica relevante sobre o declínio do socialismo utilizando uma passagem nefasta da história da humanidade.”


Pessoas com um certo conhecimento sobre a sétima arte e sobre os diretores que “desfilam seus talentos na passarela cinematográfica” sabem que o cineasta inglês Ken Loach apresenta um forte engajamento à ideologia socialista, e, literalmente, implementa os “conceitos encarnados” em suas obras. Sua filmografia está posta para corroborar com essa afirmação. A abordagem utilizada por ele em praticamente todos os seus filmes faz alusão, nos mais diversos graus, às teorias disseminadas por Marx e Engels e suas derivações e/ou adaptações para os mais diversos momentos temporais da história do mundo. Pode-se sem dificuldade alguma salientar que “Terra e liberdade” é de longe o seu filme mais socialista. Uma ode à ideologia esquerdista!

Eis a sinopse: “Após a morte de um idoso na Inglaterra, sua filha vasculha os pertences do falecido pai e encontra uma velha pasta cheia de lembranças. A narrativa, então, volta para o ano de 1936, quando um jovem inglês desempregado – o referido idoso -, David Carr, abandona Liverpool para lutar contra os fascistas, capitaneados por Francisco Franco, na Guerra Civil espanhola, junta-se ao contingente internacional da Milícia Republicana em Aragon, e, mais tarde, desentende-se com seus companheiros do Partido Comunista.”

Por intermédio de “Terra e liberdade“, Loach presta uma homenagem emocionada à sua amada ideologia, mas também, com sua peculiar e sempre pertinente visão política, não se furta de revelar seu ponto de vista em relação a supostas falhas históricas na implementação do socialismo, que foram responsáveis pela derrocada da ideologia em um mundo eminentemente capitalista como o atual – e como o de 1995. É bom lembrar que a dissolução da antiga URSS ocorreu em dezembro de 1991. Portanto, 4 anos antes do lançamento do filme em tela. Digamos que Loach ainda estava curtindo uma ressaca pós-dissolução. O cineasta critica a presença de várias “facções vermelhas” que lutam de forma heterogênea e/ou individual,  mesmo tendo teoricamente os mesmos propósitos, mas, principalmente, critica o socialismo de Josef Stalin, o qual nem precisa de explicação, pois a história e os milhões de assassinatos cometidos por seu regime já se encarregam de tal tarefa descritiva. Através, principalmente, do microcosmo localizado em uma aldeia espanhola, entre outras locações, o diretor evidencia sua principal pretensão: mostrar a desunião da esquerda e a ausência de um modus operandi padrão, ao passo que os fascistas sempre levantaram a mesma bandeira e agiram organizadamente em suas frentes de batalha. A existência de opiniões discordantes entre os próprios revolucionários quanto à coletivização das terras, a luta armada – e hilária – entre ingleses com o mesmo propósito, a presença concomitante de milícias revolucionárias e um exército comunista formalmente constituído que atuam na guerra espanhola, etc., exemplificam o contexto sugerido pela presente obra. Nota-se que, realmente, a opinião do velho cineasta não deve ser desconsiderada. Talvez, “Terra e liberdade“, mesmo contando com uma narrativa histórica, tenha sido uma forma romantizada que Loach encontrou de “sepultar” a sua esperança socialista e exibir os rumos do mundo nas próximas décadas. É percebido que seus filmes posteriores, em sua maioria – sobretudo os mais recentes -, perderam um caráter mais exaltador ou defensor de conceitos e se tornaram mais denunciadores de abusos, ou seja, transmitem a mensagem que a luta foi perdida, todavia, os olhos devem se manter sempre abertos e vigilantes.

“Terra e liberdade” apresenta simbolismos reais, ficcionais e abundantes, que denotam nada mais do que o amor do velho Loach por suas conviccções: um lenço vermelho recheado de terra e encontrado entre os pertences do falecido logo no início do filme; a impressionante e comovente solidariedade de “estrangeiros” europeus em nome do embate contra o inimigo comum: os fascistas; o famoso punho cerrado denotando força na defesa da causa; vastos exemplos tocantes de união, esperança e resiliência; etc. O diretor não esquece em nenhum momento de evidenciar a desigualdade da luta entre o sugerido “bem e mal”, pela diferença de poderio bélico e armamentista e a presença da classe trabalhadora despreparada para a guerra como os componentes do lado vermelho do embate. Também, no sentido de humanizar a conjuntura em meio à barbárie da guerra, há a preocupação de inserir no contexto amor das mais variadas formas entre os personagens, o que sempre é pertinente em narrativas bélicas, para que o espectador identifique outros pontos de interesse e busque uma refúgio sentimental em oposição ao peso emocional denotado por filmes desse tipo. O defecho é bastante equilibrado e proporciona uma saída digna e equilibrada para o direcionamento a que o filme se propõe a transmitir.

Percebe-se que a nostalgia de Loach em sua obra-prima encarnada é emocionante sem se tornar piegas. “Terra e liberdade” é a mais bela poesia audiovisual socialista produzida pelo velho diretor, por evidenciar como nunca as teorias de Marx e Engels, admitir erros, assimilar a derrota e plantar uma semente vermelha que, quem sabe, possa germinar em alguma terra coletivizada ao redor do mundo. Para os companheiros, camaradas, militantes e admiradores do socialismo, eis o que pode se chamar de um filme obrigatório, pois acende uma fagulha de esperança para que a luta sempre continue. Terra e liberdade para todos!

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba


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