O Físico (2013)

Título original: Der Medicus

Título em inglês: The Physician

País: Alemanha

Duração: 1 h e 51 min

Gêneros: Aventura, drama, história

Elenco Principal: Tom Payne, Stellan Skarsgård, Emma Rigby, Ben Kingsley

Diretor: Philipp Stölzl

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt2101473/


Citações:

  • “Todos os dias eu duvido de manhã e de noite. Nesse meio tempo, eu me esforço para não pensar sobre isso”.
  • “Sucesso entre muitos fracassos é um fardo que devemos carregar quando escolhemos isso”.

Opinião: “Um épico by Hollywood made in Germany.


Antes de qualquer análise sobre o filme em tela, deve-se criticar quanto o título adotado no Brasil, que, na verdade, foi uma tradução literal do título em inglês. Deve-se também salientar que outras traduções do título ao redor do mundo também cometeram esse erro. Posso afirmar que essas traduções foram esdrúxulas, pois é absolutamente claro no próprio título original e nas cenas exibidas que o filme faz referência à prática da medicina, à arte de curar. Então, por uma questão de coerência, adotarei o título original, “Der Medicus“, ao longo deste texto. Outra observação necessária é que a versão original do filme – a alemã – tem 35 minutos a mais em relação à brasileira – e foi essa versão reduzida a que assisti e vou comentar. Sinceramente, ainda reflito sobre a necessidade dessa redução, pois filmes longos temos aos montes na cinematografia mundial – e isso não é demérito -, e houve uma perda significativa no tocante a coesão entre cenas pela supressão desses minutos. Como se nota, há dois problemas crassos na internacionalização do filme, entretanto, ele agrada na maioria do tempo, mas com algumas ressalvas. Seguem abaixo minhas impressões sobre “Der Medicus“: um épico medieval interessante na medida do possível.

Eis a sinopse: Inglaterra, século XI. Ainda criança, Rob vê sua mãe morrer em decorrência da chamada doença lateral, que atualmente é conhecida por apendicite. O garoto cresce sob os cuidados de Bader, um “barbeiro” local que promete curar doenças. Ao crescer, Rob acumula todos os conhecimentos de Bader sobre cuidar de pessoas doentes, mas ele sonha em saber mais. Após Bader passar por uma operação nos olhos, Rob descobre que na Pérsia há um médico famoso, Ibn Sina, responsável por administrar um hospital. Para aprender com ele, Rob faz uma longa viagem rumo à Ásia, passando por cima de várias dificuldades e escondendo o fato de ser cristão, já que apenas judeus e árabes podem entrar na Pérsia.

Der Medicus” é uma história ficcional e baseada no romance do escritor americano Noah Gordon, que utiliza muitos personagens imaginários e alguns que realmente habitaram em nosso planeta, como o Xá Alá, um personagem importante, mas mal construído pela artificialidade de seu intérprete, e Ibn Sina, conhecido no Ocidente como Avicena, que foi o médico mais relevante da Idade Média – chamado de “o príncipe dos médicos” – e escreveu o “Cânone da Medicina”, que foi a principal referência bibliográfica sobre o assunto por séculos, após muito conhecimento médico ter sido perdido ou abandonado – principalmente os estudos de Roma – por intervenção da Igreja.

Podemos enxergar “Der Medicus” como uma produção motivacional, pela quantidade de situações que proporcionam boas mensagens. Há um menino órfão e plebeu que se junta a um curandeiro, aprende um pouco de seu ofício, encanta-se após presenciar uma cirurgia e parte numa aventura perigosa e potencialmente mortal para aprender com o melhor professor de sua época. Claramente, observa-se duas mensagens oportunas nas entrelinhas desse resumo: “aprenda através de boas referências” e “lute por seus sonhos”. Após a exibição, nota-se também que a presença do fracasso para se obter o sucesso é algo que requer habilidade para lidar e representa quase que um pré-requisito para prosperar em alguma atividade. Explicitamente, coloquei nas citações mais acima uma frase de Ibn Sina sobre o assunto para exemplificar.

No entanto, a despeito de seu caráter inspirador, como obra cinematográfica o filme deixa muito a desejar, recaindo na seara do mero entretenimento. Para uma melhor compreensão, o filme é subdivido “geograficamente” em três partes: a inglesa; a “cigana”, que faz alusão à viagem de Rob; e a persa. Respectivamente, percebe-se uma a primeira parte bastante promissora, a segunda terrivelmente resumida – pelo menos na versão brasileira -, e a terceira bem construída, mas com a sensação de tempo desperdiçado pela necessidade de inserir um romance entre Rob e a bela Rebbeca, desfigurando – ou desidratando – o argumento principal da narrativa. Antes de analisar cada um dos blocos que compõem o roteiro, deve-se salientar que há inúmeros clichês presentes em todos eles, que funcionam no sentido de obter facilmente a atenção do público, mas, como já deixei subentendido anteriormente, conduzem o filme para uma condição de normalidade: sem grandes atrativos, inovações ou pontos de interesse. O filme se inicia fazendo alusão à chamada “Idade das Trevas” na Europa e apresentando os primeiros personagens em meio a uma situação trágica e que trabalha alguns aspectos sociais pertinentes em relação à época dramatizada. Entretanto, já se nota a falta de compromisso em desenvolver melhor as relações pessoais entre os personagens através da relação mãe e filho, que praticamente não é desenvolvida. Isso seria visto mais adiante através da relação entre Rob e Ibn Sina – que é a relação que deveria ser trabalhada à exaustão por ser a mais importante no contexto que é proposto -, Rob e o Xá, Rob e seus amigos “universitários” e Rob e Rebecca. A relação entre Rob e Baden é a única que “se salva” por apresentar um pouco de profundidade, mas é muito pouco para retirar o filme da seara da superficialidade no tocante à interação entre os personagens. A segunda parte, a viagem até a Pérsia, tinha todos os elementos para acrescentar aspectos técnicos enriquecedores em uma obra cinematográfica, como a fotografia e a trilha sonora, para melhorar a experiência do espectador e acrescentar um pouco mais de arte ao filme, mas, infelizmente, esse bloco narrativo é abandonado pela edição nacional, que simplesmente o resume a poucos minutos, nos quais há apenas uma pequena amostra de belas paisagens, músicas e situações típicas das regiões, etc. Num piscar de olhos, Rob estava na Pérsia, numa aceleração temporal indiscriminada e impertinente. Na verdade, o segundo bloco, teve um papel introdutório da relação entre Rob e Rebecca – a maior desnecessidade do roteiro. O terceiro bloco trabalha a principal temática do roteiro, na minha opinião, o embate – ou o conflito – entre a ciência e a religião. Introduz restrições na área da pesquisa científica, que eram impostas por aspectos religiosos e hoje são responsabilidade da chamada “ética”. Também, é automática a correlação da narrativa, principalmente a parte relacionada à Peste Negra, com os dias atuais e a pandemia causada pelo covid-19. Tem até a curva de mortes! Inegavelmente, as “cenas médicas” são muito bem realizadas e concedem muitos pontos em uma eventual avaliação final do filme, entretanto, todo esse “bloco persa” foi mal aproveitado, pois a estrada que Rob e Ibn Sena poderiam percorrer juntos era infinita, e o filme só aproveitou alguns metros “de asfalto”, para privilegiar aspectos acessórios em relação à principal linha de raciocínio da narrativa.

Ao fim, resta uma experiência aceitável para o espectador, mas sem muito alarde. Apenas algumas reflexões e boa diversão ao estilo hollywoodiano, apesar de ser um filme alemão. “Der Medicus” não deixa de ser uma ode ao conhecimento, à pesquisa, mas, cinematograficamente falando, é um desperdício de estilo! O cinema europeu historicamente tem outro viés!

O trailer, com legendas em português, segue abaixo.

Adriano Zumba


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