Krasue – Inhuman Kiss (2019)

Título original: Sang Krasue

País: Tailândia

Duração: 2 h e 02 min

Gêneros: Drama, horror, romance

Elenco Principal: Phantira Pipityakorn, Oabnithi Wiwattanawarang, Sapol Assawamunkong

Diretor: Sitisiri Mongkolsiri

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt9799992/


Opinião: “Bastante original, atrativo em um bom grau, mas visualmente repulsivo.”


Lendas urbanas são histórias folclóricas que são disseminadas ao longo dos tempos. Elas podem ou não ser baseadas em fatos reais e uma das características mais marcantes dessas histórias é a capacidade de mexer com o psicológico das pessoas ao despertar sentimentos variados, principalmente o medo. Há também um caráter cultural implícito nessas lendas, que adicionam as especificidades de determinada região, cidade, país ou localização, ao contexto. Dito isto, “Krasue” dramatiza uma famosa lenda urbana tailandesa, mas bastante conhecida em outros países asiáticos, cujo detalhamento pode ser lido clicando-se aqui. Em relação ao filme, pode-se afirmar que é um tanto quanto esquisito, mas, segundo averiguei, trata-se de uma boa representação da lenda ora citada. O filme é bizarro porque a lenda propriamente dita também é bizarra. Apenas isso! De qualquer forma, proporciona uma experiência interessante, nem que seja para conhecer mais uma história fantástica, fantasiosa e sobrenatural, advinda de um país tão longínquo e cujas nuances são tão desconhecidas do grande público, que habita fortemente o imaginário popular. Minhas impressões sobre “Krasue” estão mostradas abaixo.

Eis a sinopse: “Em um vilarejo distante, vive uma inocente adolescente, Sai, que, mais tarde, descobriu-se herdando a maldição de Krasue, após um incidente em sua infância. À noite, sua cabeça se desprende de seu corpo e sai à procura de carne e sangue. Os aldeões locais, bem como caçadores de outras vilas, estão apavorados com a morte de seus rebanhos e saem determinados à caça das Krasues que estão à solta. Nesse contexto, dois amigos de infância de Sai entram em cena: Jerd, que se junta à caçada, e Noi, que fica do lado da jovem a despeito de conhecer a horrível verdade sobre sua amiga, e, então, o amor entre eles acontece, o que desperta severos ciúmes em Jerd.”

O grande atrativo do filme em tela é, sem dúvida, sua originalidade, pois, realmente, a narrativa proposta, bem como a história lendária tomada como base, são pitorescas. Já vi algo mais ou menos parecido no filme indiano “Stree (2018)“, mas, por incrível que pareça, o filme da Tailândia – um país com muito menos tradição no mundo da sétima arte -, implementa melhor os aspectos técnicos de seu filme, salvo algumas exceções, como a maquiagem e a caracterização dos “monstros masculinos”, e desenvolve com mais competência suas temáticas e gêneros cinematográficos nos quais é categorizado. “Krasue” é sim um filme de terror/horror, pois tudo que exibe criaturas sobrenaturais – ávidas por sangue – que assustam os personagens, provavelmente assustará o público também, entretanto, o drama e o romance são mais representativos dentro da obra. O filme tem um bom conteúdo para compensar a narrativa assustadoramente estranha que se propõe a apresentar.

O desenvolvimento do arco dramático próprio que é concedido a cada componente do trio adolescente de protagonistas provê uma certa possibilidade de aproximação do público à história peculiar que é dramatizada, pois tais arcos acabam por se basear fortemente no amor, que é sempre um sentimento cativante, mesmo que seja entre seres visualmente não atrativos. Quem assistiu ao filme sueco “Border (2018)” consegue entender mais facilmente essa afirmação. O aparente coração da Krasue tem um grande simbolismo. Por outro lado, a construção trágica do destino de cada um deles, ao passo que suscita o terror, pela forma como é mostrada, também suscita a piedade, a compaixão, a empatia, principalmente pelo par romântico, Sai e Noi. Percebe-se, com isso, um filme que transita harmoniosamente entre seus gêneros, provendo uma narrativa bastante equilibrada e emocional sem exageros, nem pieguismo.

Deve-se destacar a trilha sonora da obra, que é composta por notas que vão desde as belas e melódicas nas cenas em que o amor toma corpo, até as tensas e perturbadoras para potencializar o efeito dos momentos aterrorizantes do filme. Trata-se de um trabalho sonoro primoroso. Na seara das atuações, apenas o intérprete de Noi, Oabnithi Wiwattanawarang, destaca-se com seu interpretação. Os demais protagonistas, Sai e Jerd, a despeito de estarem inseridos num contexto que lhes permite brilhar intensamente, tornam-se muito apagados com o desenrolar da história, pois não se identifica a mesma força encontrada em Noi, por exemplo. Ambos os intérpretes se perderam na suposta complexidade de seus respectivos personagens. Como já citei mais acima, os aspectos visuais de algumas criaturas deixam muito a desejar. Enquanto a Krasue é muito bem produzida, com ótimos efeitos especiais e visuais que oferecem uma excelente representação do que se imagina segundo a lenda, os outros monstros se mostram com caracterizações até certo ponto amadoras, o que retira alguns pontos de qualquer eventual avaliação sobre o filme, principalmente em seu desfecho, cujas cenas em que aparecem são difíceis de assistir por passarem aquela sensação de “homem fantasiado de monstro”, ou seja, não transmitem segurança visual em relação a seus papéis dentro do filme. A pele desses personagens é muito malfeita. Julgo também a presenças desses monstros como desnecessária, pois enfraquecem o enfoque sobre a personagem principal e não acrescentam muito à narrativa. Sobre a falta de excelência ora citada, nunca é demais lembrar que “Krasue” é um filme tailandês, que conta com um investimento muito menor do que seu amigo indiano, “Stree“, por exemplo. De qualquer forma, o filme conseguiu a proeza de ser indicado por seu país ao Oscar 2020, e, assim, conseguiu alguma visibilidade internacional. Definitivamente não é pouca coisa para um filme com essa pegada.

Ao fim, há satisfação pela experiência vivenciada. O filme não é uma obra-prima, nem tampouco consegue adentrar na galeria de melhores filmes de um espectador médio, pois é visualmente muito indigesto, muito excêntrico. Não é raro provocar repulsa a observação da figura da Krasue. Entretanto, seu roteiro suaviza, dramatiza e tensiona as sensações provocadas a seu público e transforma o filme em uma boa jornada cinematográfica. Trata-se de uma jornada estranha, mas estimulante. Bom para conhecer pormenores de mais um incrível conto cultural desse grande mundo em que vivemos. Vale a pena!

O trailer segue abaixo.

Adriano Zumba


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