Concrete utopia (2023)

País: Coreia do Sul

Duração: 2 h e 10 min

Gêneros: Ação, aventura, drama, ficção científica, thriller

Elenco principal: Lee Byung-hun, Park Seo-joon, Park Bo-young

Diretor: Tae-hwa Eom

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt13086266/


Citações:

  • “Quando olho para uma pessoa, posso dizer no mesmo momento se ela está me traindo ou não.”
  • “Melhor esmagado do que congelado.”
  • “Vamos comer sozinhos. Foi tão difícil de conseguir isso.”
  • “As pessoas não conseguem ser simplesmente humanas e amantes da paz?”
  • “Nós os acolhemos e eles agem como se fosse a casa deles.”
  • “Morra racionalmente se quiser, eu vou viver dramaticamente!”
  • “Generosidade vem da barriga cheia.”
  • “…nosso complexo de apartamentos foi escolhido.”
  • “Honestamente, não há diferença entre um assassino e um pastor.”
  • “São Bestas com rostos humanos…”
  • “Eles correm como baratas!”
  • “Crianças ou adultos, vocês são todos assassinos!”
  • “Todas vocês parecem estranhamente esperançosas.”
  • “Estamos fazendo o óbvio. Protegendo nossas famílias.”
  • “Isso tudo é pelo bem dos nossos apartamentos!”
  • “O Sr. Delegado é uma barata?”
  • ” Elas eram apenas… pessoas comuns.”

Sinopse: A história acompanha aqueles que sobreviveram em uma cidade, Seul, que foi à ruína depois que um grande terremoto destruiu todo o concreto.


UM FILME-CATÁSTROFE COM QUESTIONAMENTOS MAIS PROFUNDOS.


Concrete utopia” é um filme cuja abordagem engana facilmente o espectador – principalmente após assistir ao trailer e/ou ler a sinopse – que já prepara a pipoca para uma sessão de entretenimento em mais um filme-catástrofe ao estilo hollywoodiano. Ledo engano! No filme em tela temos a típica premissa pós-apocalíptica vista e revista no cinema ocidental moderno, mas um pouco mais profunda e impregnada de existencialismo, ao lançar um olhar íntimo sobre as pessoas que estão envolvidas na busca desesperada pela sobrevivência em meio ao caos. Por conta de sua abordagem centrada mais nos personagens do que na “pirotecnia”, temos um drama angustiante somado a uma aventura potencialmente mortal em busca de recursos, que revela uma representação emocionante, perturbadora e poderosa do pior da sociedade, mas mostrando igualmente as melhores qualidades dos humanos, como a esperança, a comunidade e a decência, que sempre existirão em quaisquer circunstâncias, até mesmo entre a poeira e a devastação do concreto, que quebra – e muito -, assim como os valores das pessoas em momentos de crise extrema.

Concrete utopia” é um filme com muita CGI de ótima qualidade, mas sem enfocar com força nesses aspectos visuais; com trilha e recursos sonoros competentes, que acompanham a emoção das cenas; com cenas de ação, de suspense, de drama e até mesmo de comédia (algumas delas bem deslocadas, por sinal); com alguns poucos personagens principais (apesar de um elenco numeroso), que introduzem perfeitamente as dúvidas e os antagonismos necessários para o bom funcionamento do roteiro. Um resumo rápido do enredo para uma melhor contextualização dos personagens é o seguinte: Após um terremoto de uma magnitude imensurável, apenas um complexo de apartamentos, o Hwang Gung, fica de pé em Seul. Nesse contexto, o local é o único porto seguro para a população sobrevivente por conta do frio dilacerante e mortal que assola a cidade no momento. Entretanto, água e comida são escassos para todos. Com isso, os moradores do complexo precisam decidir se vão abrigar os “forasteiros”, diga-se, as pessoas não-residentes no complexo antes do terremoto, em um exercício de humanidade, ou vão repeli-los e expulsá-los usando tudo o que tiverem a seu dispor, em um exercício de egoísmo, mas em nome da sobrevivência, onde os mais fortes e/ou os mais organizados prosperarão.

Temos em suma 3 protagonistas: Young-tak (o mocinho de “Eu vi o diabo” em uma atuação memorável), o personagem sem família, solitário, que foi escolhido como líder do complexo (chamado de Delegado no filme); e Min-sung e Myung-hwa, que são casados e trabalham como servidor público e enfermeira respectivamente, ou seja, têm a predisposição de ajudar ao próximo. Nota-se que, apenas por essas informações, já identificarmos que há a propensão de atitudes e pensamentos diferentes dado o contexto, mas, na verdade, Myung-hwa é a mais humana, Young-tak é o que tem maior senso de sobrevivência, fazendo tudo o que está a seu alcance, inclusive usar a violência – que irrompe quando as pessoas percebem que os recursos e os abrigos são extremamente limitados – para a consecução de seus objetivos; e Min-sung é o personagem que representa a dúvida na narrativa, devendo escolher que rumo seguir ao longo do filme. Ainda se deve prestar atenção numa personagem coadjuvante que faz toda a diferença para o desfecho da obra: Hye-won, uma garota de cerca de uns 18 anos, que aparece depois e que carrega informações reveladoras consigo. Na prática, é difícil identificar quem é bom ou ruim na situação proposta, devendo cada espectador fazer o seu julgamento.

Considero que a abordagem utilizada para cada um desses protagonistas foi satisfatória, isto é, o tempo de tela, a utilização dentro do roteiro, o grau de importância de cada um, etc., no entanto, seria bom conhecer um pouco mais as histórias de fundo desses personagens para que eles fossem mais bem caracterizados, contribuindo para o enriquecimento da percepção por parte do espectador e proporcionando mais completude à narrativa. Ademais, o filme trabalha de forma bem eficaz seus momentos diversos, desde os emocionais e cruciais até os de menor importância, tornando-os relevantes no contexto que está sendo dramatizado. Percebe-se, enfim, que “Concrete utopia“, além de uma boa diversão é altamente reflexivo por trabalhar a alma do ser humano em sua história, provocando de forma automática um inevitável questionamento para seu público: “O que eu faria numa situação dessas?” O desfecho é realmente muito bom e mostra com estilo a inversão dos valores humanos comuns em tempos de crise, concluindo os argumentos que se propõe a desenvolver e reforçando a angústia que o espectador porventura possa estar vivenciando em se colocar naquela situação.

Como informação, o longa é baseado em uma história em quadrinhos da web (webtoon) chamada “Pleasant Outcast“, que detalha um desastre semelhante ao do filme em que as pessoas se tornam valentões egoístas, ou não. Ao fim, percebe-se que “Concrete utopia” não faz nada de particularmente novo para o subgênero de suspense distópico, a não ser trabalhar mais profundamente os personagens do que o convencional, mas é consistentemente envolvente e bem executado. Ele apresenta uma imagem perturbadora da humanidade que descamba para o pior quando a estrutura social é desmembrada (ou uma nova estrutura deva ser criada dada a conjuntura) e a sobrevivência se torna a única necessidade do momento, devendo-se, então, escolher quais valores humanos deverão se sobressair. O filme é a indicação da Coreia do Sul ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2024. Acho que as chances são poucas, afinal, não é o tipo de filme que a “Academia” costuma laurear, mas, pelo viés social e humano, talvez consiga uma vaga entre os 15 semifinalistas. Torço por isso, pois, pelo menos para mim, foi uma ótima experiência!

O trailer com legendas em inglês segue abaixo.

Adriano Zumba


TRAILER

2 comentários Adicione o seu

  1. Fabricio disse:

    Amigo, viu que titulo pavoroso deram em Português? Hahaha

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    1. Kkkkkkkkk. “Sobreviventes – Depois do terremoto”! Perdeu até a mensagem por trás do título original. Péssimo!

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