Kerr (2021)

KERR (2021)

Países: Turquia, Grécia, França

Duração: 1 h e 41 min

Gênero: Thriller

Elenco Principal: Erdem Senocak, Jale Arikan, Riza Akin

Diretor: Tayfun Pirselimoglu

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt15168234/


Citações:

  • “Tudo é bizarro aqui. Este é um lugar estranho. (…) Nada é o que parece.”
  • “Tudo parece se repetir. Como assim? Tudo está se repetindo. E assim é a vida. Como se você continuasse vivendo as mesmas coisas novamente.”
  • “Se você é tomado pelo medo, você cai”.

Sinopse: O filme conta a história de Can que testemunha um assassinato em uma estação de trem de uma pequena cidade, na qual ele se encontra por ocasião do funeral de seu pai. A polícia não permite que ele saia após seu depoimento. Enquanto isso, é declarada uma quarentena devido a cães raivosos que estão soltos pela rua. A cidade inteira vira um purgatório sem saída e está quase no limite de insanidade.


Sugiro esse filme turco dirigido e roteirizado por Tayfun Pirselimoglu e que traz no elenco Erdem Senocak, Jale Arikan e Riza Akin. O filme que teve sua estreia no Festival Internacional de Varsóvia, foi o representante da Turquia para a disputa do Oscar e Globo de Ouro de Melhor Filme Internacional de 2023. Além disso, ele colecionou alguns prêmios em festivais turcos, fotografia em Ravena, Italia, além de outras indicações em festivais internacionais. O filme é falado em turco e tem nota 6.0 no IMDB.


APONTAMENTOS INICIAIS

O diretor turco, que também é pintor e escritor, escreveu três livros de contos e sete romances, um dos quais, “Kerr”, o qual ele adaptou para o cinema. Como não li o livro, não sei o quanto o roteiro é fiel. Entretanto, a história que nos é contada pelo diretor nesta película tem seu próprio sentido, e o olhar de quem assiste o filme é normalmente buscar referências nas imagens e na linguagem para buscar o melhor entendimento, ao modo do que os psicólogos alemães da escola da Gestalt (forma) nos ensinam, isto é, de que estamos sempre buscando a boa “forma” dentro daquilo que percebemos, influenciados evidentemente por uma série de outras váriáveis.

A armadilha para este filme é justamente a falta de pontos de referência dentro de uma lógica formal, especialmente pelo que o roteiro nos apresenta. Ou pelo que não nos informa. E assim, ficamos tão perdidos quanto o personagem principal, que aliás me parece muito bem no papel, pois ele é a imagem concreta dessa falta de inteligibilidade do que está ocorrendo ao seu redor. A montagem do filme é dinâmica e competente e a fotografia bastante interessante com seus planos abertos e enquadramentos de tomadas em cenários bem sinistros, com cores esmaecidas, acentuando assim essa impassibilidade das expressões do ator. Aliás, tudo no filme parece sem vigor, sem intensidade, sem sentido, além de  contar com personagens frios e distanciados emocionalmente…


KAFKA EXISTENCIALISTA, PSICÓTICO OU ONÍRICO?

Inevitavelmente, o filme me remeteu a quase a mesma sensação que tive quado li “O Processo” e “Metamorfose” (embora de formas diferentes entre estes dois livros) de Kafka: “O Processo“, tanto pelo aspecto de ele ser inicialmente a testemunha (mas também um suspeito em potencial do crime ocorrido), mas, outrossim, pela falta de sentido de tudo que ocorre no filme, de não saber o que está acontecendo e de não ter respostas adequadas, racionais; e “Metamorfose“, pelo absurdo e estranheza de todo desenrolar dos fatos.

Assim sendo, quando o surreal se sobrepõe, mesclado com o bizarro, ainda buscando a “boa forma” (pois como é dito em algum momento do filme, “nada é o que parece”), pensaremos então em que tudo o que é mostrado sugere uma metáfora para falar de alguma outra coisa. E o que seria? Considerando o título do filme, “Kerr”, que em turco significa “repetição”, podemos pensar em algo relacionado à própria Turquia e seus problemas internos (“O que você acha do estado do país?”, é uma pergunta que se repete inúmeras vezes no filme); em processos filosóficos-existenciais (existencialistas, nietzschianos) do eterno retorno e do vazio da existência (no filme, buracos aparecem como um símbolo disso). Quem sabe são as compulsões a repetições (e há uma das citações do filme literais disso) inconscientes.

Bem, talvez, e isso é bastante plausível, seja um processo psicótico de uma crise profunda vivenciada pelo nosso personagem, divorciado (homens sozinhos, sem grupos de apoio, é um fator de risco para o suicídio), desencadeada pela perda do pai. E assim, teríamos o cenário opressor deste mundo fora da realidade, sob a égide de delírios e alucinações (houve mesmo um crime?). Por fim, um grande processo onírico, um sonho com uma espécie de comédia de erros (que não faz rir) em meio ao surreal, em um certo clima noir, cheio de mistérios e suspense.

Nesse caso último, provavelmente seja um pesadelo, e o melhor é então, acordar (ou que o filme termine).


O trailer segue abaixo.

Jonas André


TRAILER

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