Padman (2018)

País: Índia

Duração: 2 h e 19 min

Gêneros: Biografia, drama

Elenco Principal: Akshay Kumar, Radhika Apte, Sonam Kapoor

Diretor: R. Balki

IMDB: https://www.imdb.com/title/tt7218518/


O Sr. Saúde Pública, vulgo Akshay Kumar, ataca novamente! Após “Toilet – uma história de amor“, que já foi objeto de crítica aqui no blog (clique aqui para acessá-la), esse famoso ator indiano protagoniza outro filme com mensagens análogas, que, através da fácil disseminação de informações proporcionada pelo cinema, mostra ao mundo mais uma realidade inimaginável – mesmo se levarmos em consideração a época em que se passa a história, o ano de 2001. Mais uma vez, as tradições do país, baseadas principalmente na religião, são colocadas em xeque, pois a temática principal abordada no filme se refere a algo tão sensível à saúde das mulheres que o assunto se reveste com o manto da utilidade pública: a privação de uso, regado a bastante preconceito, de absorventes femininos (pads) – tão comuns e tão necessários para as mulheres da maioria dos países do mundo.

A sinopse, retirada da internet e com adaptações, é a seguinte: “O filme é baseado na história real de Arunachalam Muruganantham, inventor de uma maquina que produz absorventes de baixo custo, ajudando a conscientizar a população sobre as práticas anti-higiênicas tradicionais em torno da menstruação nas áreas rurais da Índia.”

O padman da história se chama Lakshmi. Ele se casa com Gayatri logo no início do filme e, a partir daí, tem um contato mais íntimo com o universo feminino, inclusive com a menstruação – e o desconforto e os problemas que ela traz todos os meses para sua mulher. Em nome do amor, Lakshmi procura meios para melhorar a vida de Gayatri quanto ao assunto, e sofre todas as consequências de seus atos e pensamentos por conta da cultura indiana. Nesse contexto, nota-se prontamente que é um filme sobre busca de soluções, mas não se restringe a isso, pois, tão surreal quanto uma mulher não usar absorvente, e substituí-lo por panos, folhas e até cinzas, é a reação da população – inclusive das próprias mulheres – à possibilidade de utilização do produto de higiene íntima. Percebe-se que um simples gesto de amor, com as melhores intenções e recheado de boa-fé, pode se transformar em um desafio, pois qualquer possível solução para o caso deve passar por cima da desconfiança presente na cabeça das pessoas. Como informação, em 2001, só 15% das mulheres utilizavam absorventes na Índia, que é um país superpopuloso.

Chama a atenção o lado obsessivo do protagonista – e até incomoda um pouco, principalmente na primeira meia hora de filme -, pela insistência em seu objetivo, apesar de todos os problemas para si que acaba causando. A narrativa é estruturada em 3 atos – apresentação dos personagens, desenvolvimento e desfecho -, contudo, o primeiro ato é praticamente inexistente e se confunde com o segundo, pois já nos minutos iniciais Lakshmi inicia a sua jornada. Os personagens são apresentados em meio à implementação do mote principal da história. Essa objetividade do roteiro serve para jogar os holofotes antecipadamente no foco da história e já sugerir que tempos difíceis virão para o protagonista. Ademais, temos dois momentos narrativos distintos: no primeiro, após várias frustrações, Lakshmi vai ao fundo do poço, e, no segundo, após aparecer um anjo em sua vida, as coisas começam a clarear e o céu parece ser seu limite; entretanto, para a história não ficar previsível e conter uma emoção a mais, o desfecho reserva uma escolha difícil e dolorida em sua vida particular que, por motivos óbvios, não vou comentar neste texto.

Pela minha experiência com o cinema indiano contemporâneo, temi que a narrativa escolhesse uma via que levasse à pieguice, pelo viés melodramático que geralmente é concedido a filmes com essas características. Para minha surpresa e alívio, “Padman” pavimenta sua estrada baseado na resiliência e em muito amor, mas sem sentimentalismos extremos ou forçados. É sim uma história emocionante, mas na medida certa. É também uma história angustiante, pelas imposições, em nome de tradições retrógradas – informais, mas com força de lei -, a que as mulheres são submetidas. Vemos situações realmente inusitadas, que provocam algo que destrói uma reputação facilmente na Índia: a vergonha. Enfim, são nuances de um país com outros costumes, que não cabe a nós, pessoas totalmente alheias à realidade de lá, julgar, e sim observar e torcer que, ao fim, a consciência das pessoas fale mais alto e haja um equilíbrio entre costumes e bom senso, pois saúde é um dos bens mais valiosos da vida das pessoas. De resto, fica a recomendação desse excelente filme. Como li em um comentário na internet: “é um filme inspirador” – e otimista, apesar de haver grandes obstáculos psicológicos para um desfecho positivo.

Segundo o trailer, trata-se de “uma inacreditável história real”. Segue abaixo.

Segue adiante, também, uma pequena palestra de 12 minutos, com legendas em inglês, ministrada por Arunachalam Muruganantham, o verdadeiro padman, sobre a sua história – a história do filme. Interessante de assistir!

Adriano Zumba